Ditadura Branda?
Depois de falar sobre o futuro dos jornais, vamos ver agora o que eles estão fazendo no presente. Ainda que corram o risco de desaparecer daqui alguns anos, pelo menos na versão impressa, hoje os jornais ainda são de fundamental importância para a manutenção da Democracia. Por isso causa inquietação quando um dos maiores jornais do país, a Folha de S. Paulo, faz em seu editorial uma referência no mínimo lamentável de que a ditadura militar, que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 (ler 40 Anos do AI-5), foi uma "ditabranda".
Classificar como brando um período marcado pela suspensão dos direitos civis, pelo desaparecimento de centenas de pessoas, pela morte de milhares, pela prisão e tortura de outras dezenas de milhares e que teve entre suas principais vítimas jornalistas como Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura assassinado nos porões do DOI-COD, provocou a reação de alguns leitores indignados, outros nem tanto. Em resposta, e sem se desculpar, o jornal diz que, comparada a outros países do continente, a ditadura brasileira teria sido menos violenta, preservou as instituições nacionais e garantiu, inclusive, o acesso à Justiça. Só esqueceu de explicar como se garante o acesso à justiça eliminando o principal instrumento dessa garantia, que é o Habeas Corpus.
É sabido que o Regime contou, em seu início, com o apoio dos principais jornais brasileiros, até dar lugar a um discurso de oposição encampado pela sociedade. Fica a pergunta: Será que algumas máscaras começaram a cair?
Classificar como brando um período marcado pela suspensão dos direitos civis, pelo desaparecimento de centenas de pessoas, pela morte de milhares, pela prisão e tortura de outras dezenas de milhares e que teve entre suas principais vítimas jornalistas como Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura assassinado nos porões do DOI-COD, provocou a reação de alguns leitores indignados, outros nem tanto. Em resposta, e sem se desculpar, o jornal diz que, comparada a outros países do continente, a ditadura brasileira teria sido menos violenta, preservou as instituições nacionais e garantiu, inclusive, o acesso à Justiça. Só esqueceu de explicar como se garante o acesso à justiça eliminando o principal instrumento dessa garantia, que é o Habeas Corpus.
É sabido que o Regime contou, em seu início, com o apoio dos principais jornais brasileiros, até dar lugar a um discurso de oposição encampado pela sociedade. Fica a pergunta: Será que algumas máscaras começaram a cair?
4 comentários:
Eu não presenciei os tempos da ditadura, pois não era nascido. Mas pelo que eu sei a ditadura militar brasileira não teve nada de branda.
A matéria publicada na Folha de São Paulo, é no mínimo infeliz , pra não dizer hipócrita.
Guilherme,
Dessa vez a Folha decepcionou muita muita gente. Já faz um bom tempo que o tom de oposição ao governo por parte do jornal vem direcionando suas posições bem mais à Direita do que o jornal costumava se identificar. O Editorial em questão tratava do venezuelano Chavez, que conseguiu, através de um plebiscito, o direito de concorrer a reeleição indefinidamente. O que não quer dizer que ele será reeleito. É revelador o fato de a Folha classificar a vitória de Chaves como uma manobra para se perpetuar no poder e consolidar a "Ditadura Bolivariana", mas não dedicar um linha do jornal, quanto mais críticas, às manobras do Colombiano Uribe no mesmo sentido.
Foi na crítica à Chaves que a Ditadura militar brasileira, numa referência que até parece nostálgica, acabou saindo como "branda" na opinião da Folha. Hipocrisia aí é pouco!
Obrigado pelo comentário!
Eduardo,
Agradecendo a sua prestigiosa visita aO Descurvo, venho aqui ao seu Conversa de Bar e me sinto no dever de parabeniza-lo por ele, tá bem bacana mesmo - aliás, de uns meses pra cá muita gente tem feito seus próprios blogs e, note-se bons blogs, é como se depois da popularização da blogosfera em 2007, agora estivesse acontecendo um segundo momento não menos interessante.
Sobre a inefável e nefanda Folha, toda hipocrisia é pouco mesmo, aliás, como você bem lembrou, um silêncio sepulcral paira sobre a Colômbia - e é o mesmo caso. No que toca a Venezuela, acho válido debater essa questão da possibilidade de eleição ilimitada, mas comparar o que há hoje por lá com o que houve aqui no Brasil é uma insanidade; agora, dizer que aqui houve uma ditabranda e que lá há uma ditadura terrível, já é uma ofensa dolorosa à inteligência alheia. É por isso que Chávez está há dez anos no poder: Com uma oposição dessas, seja dentro ou fora da Venezuela, é difícil levar a sério o que falam - Otavinho, aqui, implodiu o próprio argumento, se Chávez leu o editorial (e deve tê-lo ou feito ou tido notícias sobre ele)com certeza chorou de tanto rir.
O máximo que as elites do continente conseguem fazer em relação aos governos de esquerda da região é fazer piadinhas ratasqueiras ou partir para gritaria golpista estilo anos 50. Claro, é necessário sempre estarmos vigilantes e nunca nos calarmos. Essa da ditabranda, no entanto, foi demais e me deixou indiganado, assustado e envergonhado (a mesma vergonha que eles não têm) ao mesmo tempo.
abraços
Hugo Albuquerque,
Obrigado! Rapaz, isso dá um trabalho...
Realmente o número de blogs interessantes está crescendo a cada ano. O Descurvo é certamente um deles, informativo, descontraído e muito bem escrito, gostoso de ler. Continuarei acompanhando seu blog, e já pode me considerar um dos seus leitores.
O crescimento desse novo instrumento de mídia esta servindo para oxigenar as fontes de informação, até pouco tempo dominados por velhas elites comprometidas com seus interesses espúrios. Já faz algum tempo que me informo por eles. Mas acho que ainda não dá pra abrir mão da imprensa tradicional, por isso o tendencionismo da Folha e outros veículos é tão preocupante. Quem pode contar com outras fontes de informação, como alguns blogs que tanto eu quanto você acompanhamos, sabe quando se trata de uma manipulação ideológica, mas quem não pode contar com outras fontes, outras versões, seja por falta de recursos, seja por desconhecimento, é pode ser presa fácil desse tipo de distorção e manipulação jornalística.
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