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domingo, 21 de junho de 2009

Na Escola

Capitalismo x Socialismo Na última quinta-feira fui convidado a assistir a um debate entre alunos do 3º ano do Ensino Médio sobre Capitalismo e Socialismo. O debate, quase um julgamento, foi uma iniciativa da professora de Português, que propôs a divisão da classe em duas turmas, cada lado defendendo o sistema econômico que considerassem o melhor.

Cheguei na metade da aula, num momento de discussões inflamadas. A regra era não interferir, para não beneficiar nem prejudicar um ou outro grupo. Os “defensores do Capitalismo” aproveitaram muito bem os argumentos a seu favor. O mérito foi um deles, quem se esforça garantiria seu lugar ao Sol. Outro foi a competição, algo inerente ao sistema capitalista, motor do progresso tecnológico que resultaria em mais conforto e bem estar para as pessoas, além de novos produtos e serviços que, com a concorrência, ficariam cada vez melhores e mais baratos. A inovação e o desenvolvimento resultariam em mais empregos. A liberdade foi outro argumento bem explorado pelo lado capitalista. Liberdade de escolher entre vários produtos, de escolher a própria profissão, liberdade de ir e vir, de dizer o que pensa. As experiências socialistas do século XX, como a Coréia do Norte, Cuba e China, foram utilizadas contra o lado "socialista".

Do lado “Socialista” os argumentos mais explorados foram a distribuição de renda e os investimentos na área social, principalmente em educação e saúde. As desigualdades provocadas pelo capitalismo, que exclui parcela importante da população dos “benefícios” apontados por seus “defensores”, foi outro ponto reforçado por eles.

Durante as discussões pude perceber o quanto é fácil defender o Capitalismo e o quanto é difícil desnudar suas contradições. Apesar dos “socialistas” terem demonstrado maior conhecimento sobre o tema, em vários momentos os “Capitalistas” os deixaram sem argumentos, como quando recorreram à evolução da internet, dos celulares, da variedade de produtos e empregos para demonstrar a superioridade desse sistema.

Para os dois grupos faltou preparação. Com um pouco mais de conhecimento seria possível desmontar a maioria dos argumentos utilizados por cada lado, mas isso não foi culpa deles. No geral o debate foi bom.

31 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Eduardo,

Quando eu estava na escola, participei de um debate como esses. É bacana. Faz a molecada pensar.

A defesa do capitalismo é sempre muito fácil; basta colocar o individual sobre o coletivo e trabalhar o egocentrismo da platéia - aliás, é desse jeito que se defende o nazismo também, 'olhe só a crise em que nos encontramos, os caras da favela descem o morro e nos roubam, nos sequestram e nos matam', por que a gente não pode mandar o caveirão pra meter bala?'.

A defesa de qualquer opção para isso sempre é complexa porque depende de uma boa narrativa que faça a plateia olhar em volta, ter, ao menos, um lampejo conjuntural - fazendo uso de exemplos históricos, perguntando.

abraços

Luis Henrique disse...

A defesa do capitalismo é mais fácil pois estamos imersos nele e em suas idiossincrasias. O Hugo apontou bem - basta ficar na retórica da defesa de nossos próprios privilégios... agora reconhecer estes privilégios, sair da bolha e pensar numa alternativa socialista é sem dúvida muito, mas muito mais difícil.

Um abraço

PS: ninguém sequer cogitou uma proposta anarquista?

Guilherme Diogo Rodrigues disse...

Ola Edu, poxa queria eu ter participado desse debate, obviamente estaria do lado socialista.
Bom o sistema socialista ficou de certa forma denegrido depois de exemplos como coréia do norte e cuba, citados acima. Exemplos esses que foram muito usados pelos imperialistas, como propaganda contraria ao socialismo. Fazendo o mundo crer que a melhor forma é o capitalismo, O chamado "mundo livre",que de livre não tem nada, levando as pessoas a uma verdadeira escravidão consumista,e individualista. Entretanto, o socialismo à meu ver , ainda é a forma igualitária mais justa que há nesse mundo, pois há espaço para todos.
Infelizmente a implementação de tal sistema seria muito difícil hoje em dia, já que o capitalismo já está enraizado na cultura mundial. Cultura essa, que "graças a globalização" vem se transformando em uma única cultura, prevalecendo a cultura dos paises mais ricos,os imperialistas.

PS : da uma olhadinha no meu blog, ele foi todo re-paginado , vê o que você acha!

Eduardo Prado disse...

Hugo e Luiz Henrique,

Desculpem a demora para responder.

Sem dúvida o debate foi mais fácil para quem defendeu o Capitalismo. A proposta da professora foi boa, mas os alunos não tiveram tempo nem recursos para se instrumentalizarem para o debate, que ficou muito limitado ao senso comum. De qualquer maneira foi uma oportunidade para eles pensarem sobre os dois sistemas. Talvez daí surge uma disposição para pesquisar e conhecer melhor cada um deles e suas contradições.
A idéia era não interferir e deixar que eles mesmos avaliassem os próprios argumentos. No final coube ao próprio grupo decidir quem argumentou melhor e todos concordaram que os "Capitalistas" se saíram melhores.

Luiz Henrique,

Ninguém falou em anarquismo, provavelmente por não conhecerem. Aliás, ninguém fala no anarquismo, o que é uma grande injustiça para com a História desse movimento. Quem sabe no próximo debate...

Eduardo Prado disse...

Guilherme,

Foi uma experiência interessante. Eu confesso que me senti um pouco deslocado durante o debate. Da forma como ele foi pensado e organizado acho que teria sido o máximo a 20 anos atrás, mas hoje uma discussão como essa deveria levar em consideração outros elementos, ainda mais agora quando o capitalismo passa por uma de suas maiores crises. Como falar em Socialismo hoje? Eu não sei responder.

Gostei do novo template. Bem diferente do anterior. Também ando pensando em mudar o template do Conversa de Bar, mas não será agora.
Obrigado pelo comentário!

Abraços!

Hugo Albuquerque disse...

A ideia do Luis Henrique sobre o anarquismo foi muito interessante.

Ironicamente, os grandes responsáveis por quase varrer o Anarquismo da História foram os socialistas - inclusive no que envolve a própria eliminação física dos anarquistas.

Eis o exemplo de Krondstad: Como uma ideologia radical e incondicionalmente democrática pode trazer os demônios internos de qualquer um à tona. Até do mais revolucionário entre os revolucionários.

abraços

Luis Henrique disse...

Hugo,

A luta entre anarquistas e socialistas foi, na minha opinião, a pior coisa que poderia acontecer aos movimentos populares nos séculos XIX e XX. Isto, juntamente com a herança autocrática do regime feudal russo, alimentou o stalinismo na URSS. E dividiu as massas operárias em todo o mundo.

Quem sabe se o Marx não tivesse pegado tão pesado com o Proudhon...

O mais triste da história é que ambos tinham (tem) um objetivo e um inimigo em comum... seria Krondstad fraticídio?

abraços

Hugo Albuquerque disse...

Luís Henrique,

Sim, foi horrível, no entanto, não posso deixar de fazer algumas provocações aqui: Teria sido fratricídio ou eram dois projetos irreconciliáveis? Será que os anarquistas simplesmente acabaram antecipando o que viria à tona décadas mais tarde no bloco socialista? Teria o socialismo no seu interior o germe do totalitarismo ou apenas a brecha para o totalitarismo se instalar?

Aliás, Marx sempre pegou pesado com os anarquistas, vide Bakunin, por exemplo.

Avançando, acho que essa questão da herança maldita feudal na União Soviética vai até a página dois: Do tratado da União Soviética em 1922 até o Sputinik em 57, o país mudou mais do que do período de Pedro, O Grande até o fim do czarismo.

Isso sem dizer que a fagulha geradora da Revolução foi a acumulação de capital do período que vai de 1861 (abolição da servidão por Alexandre II de Romanov) até o colapso da administração imperial diante da complexidade do nascente capitalismo, já nos fins do século 19º.

Muito do que deu errado, se deu por conta de como o socialismo foi desenhado na Rússia. Olhemos para o vácuo geracional resultante dos expurgos stalinistas.

abraços

Luis Henrique disse...

Oi Hugo,

Algumas pessoas bem que tentaram conciliar as duas vertentes, como Kropotkin, mas (infelizmente) o anarco-comunismo não foi tão frutífero quanto o socialismo nem como teoria, nem como prática.

Talvez o 'germe' ou 'brecha' do totalitarismo esteja presente em em todos nós - não importa o quanto eu me declara 'libertário', eu sou humano, guardo rancor, tenho ódio, já tentei impôr a minha vontade sobre os outros. Ninguém é 'imune' a excessos, não existe vacina anti-autoritarismo, nem mesmo nas democracias mais avançadas.

Mesmo que a Rússia tenha mudado tanto em tão pouco tempo, vários aspectos sócio-culturais (sobretudo o nacionalismo chauvinista) da época czarista permanecem até hoje na Rússia, veja a liderança do Putin. São relativamente poucas as gerações que separam a época pré-revolucionária da atual.

Fazendo um paralelo grotesco, a coisa mais fácil de se encontrar na política brasileira é coronelismo... é possível encontrar ecos de um passado remoto na vida presente, isso é ao mesmo tempo interessante e assustador.

abraços

Hugo Albuquerque disse...

Luis Henrique,

Será que não tentamos impor nossa vontade o tempo inteiro? Certa vez eu pensava sobre o que tornava o homem diferente dos animais, daí eu tive um estalo: É a certeza da morte.

Os animais instintivamente reagem contra a possibilidade da morte. É uma forma primitiva de consciência. Mas nenhum deles está certo que vai morrer. Com o ser humano ocorre o contrário, nós sabemos não apenas que podemos, mas que vamos morrer, façamos o que for, só nos restando a dura tarefa de alongarmos ao máximo nossa vida.

O que é um desejo senão a revelação de um vazio? E quer vazio maior do que a certeza da morte? Desejamos, portanto, o tempo inteiro. Isso é o que se esconde por detrás da nossa consciência e desse desejo de transcendência: Queremos deixar a marca de nossa existência no infinito custe o que custar e é aí que construímos a nossa dimensão cultural.

Mas o nosso desejar é, na verdade, dialético; desejamos que alguém deseje nos entender.

Os homens são produto da História, mas são também, em sua enormíssima insignificância, seus criadores. De certa forma você tem razão, nosso ser é democrático e autocrático ao mesmo tempo.

Podemos, na verdade, construir um conceito de história que corresponda a essa constatação e faça as pessoas se darem conta do "eu poderia ser você e você poderia ser eu" - a chave para a superação do dilema do desejo está, justamente, na superação da ideia do Outro enquanto meio para a realização dos nossos desejos, mas sim sua compreensão enquanto fim.

Especulações filosóficas de lado, quando a bandeira do Czar foi retirada do baú, não havia mais Rússia, a Rússia dos czares e do Império era peça de museu.

O paradigma histórico sobre o qual a Rússia pós-soviética se assentou é o da assunção da missão histórica da manutenção da trajetória gloriosa do povo russo, uma retomada ao caminho da alegoria da Terceira Roma.

O complicativo foi e é, justamente, que todos esses conceitos já não eram mais parte da realidade do povo russo, na verdade, se retomou uma tradição há muito abortada por meio de uma reconstrução narrativa do que era quase arqueológico.

Putin, por exemplo, não nasceu em São Petersburgo, mas sim em Leningrado e para Leningrado, São Petersburgo era mera peça de museu, ainda que divida em inúmeros fragmentos, materiais ou não, visto apenas porque contrastavam com a arquitetura construtivista do período soviético; os arcos ogivais do ontem versus as linhas frias e rígidas do futuro atemporal do Homem Novo.

O Pedro, o Grande que Putin tanto admira, não significa a continuação de uma tradição política, posto que ele nada mais é que o grande líder recontado a partir das reminiscências de peças quase arqueológicas.

A continuidade que os russos tanta postulam, seja das vitórias de Ivan, o terrível até a de Gagarin não são a tradição de Ivan ou de Gagarin: São a história de Ivan e a história de Gagarin contadas de modo a retirar o viés primitivo da primeira e os tons vermelhos da segunda, concedendo-as certa uniformidade para ser possível a existência de uma unidade narrativa que a segunda jamais pretendeu constituir em relação à primeira.

abração

Hugo Albuquerque disse...

Só um adento após minha longa postagem: Justamente por reconhecer essa falibilidade humana é que Bakunin se mostrava contrário à Ditadura do Proletariado, o coletivismo era, na verdade, uma forma desesperada de diminuir a margem de erro das decisões políticas.

Unknown disse...

Eduardo,

Fiquei imaginando a situação que você descreve.

Fica evidente que é muito mais fácil saudar os aspectos positivos do capitalismo e criticar o socialismo (mesmo porque este se mistura a experiências históricas que todos sabem fracassadas).

Mas uma coisa me intrigou: esse pessoal que tece esse elogio ao mérito faz o quê com a multidão de catadores de lata, carroceiros, camelôs (para ficar só nos que se matam de trabalhar e não falar em mendigos e famintos de forma geral)? Considera todos uns incompetentes, que falharam em um sistema que dá tantas chances? Sei que a galera é nova, há de se dar um desconto, mas não são crianças, certo? Esse tema apareceu no debate?

Eduardo Prado disse...

Hugo e Luiz Henrique,

Caramba! Essa discussão ainda pode dar muito pano pra manga!

Dando meu pitaco nessa conversa, acho interessante que o declínio do Movimento Anarquista no Brasil se deu em seguida a criação do Partido Comunista. Enquanto os comunistas (ou socialistas) tinham como estrtégia "seqüestrar" o aparelho estatal para fazer dele um instrumento para chegar a Revolução, os anarquistas iam na direção contrária, criando suas próprias instituições para que elas substituíssem as estatais. O modo como os anarquistas se (des)organizavam foi um dos fatores determinantes para seu declínio.

Eduardo Prado disse...

Maurício,

Infelizmente a turma que defendia o Socialismo não soube aproveitar as contradições do Capitalismo dentro do debate. E olha que não seria difícil já que eles mesmos fazem parte dessa contradição. Trata-se de uma escola de periferia e a maioria dos alunos trabalha durante o dia. Acorda cedo, enfrentam horas de transito em transportes coletivos de péssima qualidade. Mas participar, nem que seja de apenas uma fatia do mundo do consumo, faz parecer que tudo isso vale a pena.

Antes de ser professor eu fui vendedor e me causava certa indignação ver pessoas humildes gastando todo o salário para comprar um celular de última geração, um PS II, TV tela plana ou super sistema de som. Com esse dinheiro poderiam visitar mais vezes o dentista ou vestir melhor os filhos, sei lá. Com o tempo fui percebendo que meu julgamento era injusto. Ao comprar um desses itens de consumo as pessoas se sentem incluídas. A posse de um celular show de bola, mesmo que falta outras coisas mais essenciais em casa, faz com que o sacrifício diário faça sentido. É uma conquista.

A proposta, como já falei, foi da professora de Português e tinha como objetivo mostrar aos alunos a importância do argumento na elaboração de determinados textos _ e nisso o debate ajudou bastante _ , por isso não poderia interferir. Mas bem de deu vontade.

MeMe disse...

Olá Eduardo...

Não pude deixar de ler os comentários e me indignar que o anarquismo sempre é tratado de forma diminuta. Porque ninguém analisa um sistema que não confrontou o capitalismo de frente assim como o socialismo. Triste, porque eu acredito no anarquismo, apesar de compreender que o melhor sistema que poderemos encontrar, é o atual, mesmo com suas falhas, entendemos que entre tudo que já foi colocado em prática o capitalismo deu certo. E este argumento é suficiente para convencer à muita gente.

E outra coisa, para uma escola de periferia, um debate numa aula de português, mostra que o ensino é de um nível bom, porque aqui no Paraná, o máximo de conhecimento gerais que pode ser encontrado numa aula de português é a apresentação de teatro sobre alguma obra relacionada com os vestibulares. Isso nas melhores escolas públicas.

Até, e obrigada pela visita^^.

Roberto l.Silva disse...

Oi Edu quanto tempo!
dei uma lida no post e nos comentários bem legal
eu acho que e muito mais fácil defender o capitalismo, que o Socialismo, só no fato do Capitalismo ser mais fácil de ser defendido basta colocar o individual,já a socialismo teria ser pensado no coletivo ,esse dias la no BQL tivemos um debate também só que o assunto era outro se tratava sobre a aprovação do aborto
que o professor Antônio de português criou na sala acho bem legal os debates ocorridos em sala de aula,estimula o pessoal a se interessar mais sobre o devido assunto.

abraço!

Luis Henrique disse...

'Mas participar, nem que seja de apenas uma fatia do mundo do consumo, faz parecer que tudo isso vale a pena.'

O mundo do consumo é incrivelmente sedutor, aliás, somos seduzidos por ele desde a mais tenra idade - saindo de casa ou assistindo à TV, é um bombardeio de uma quantidade abissal de propagandas que não só vendem produtos, vendem um estilo de vida.

Flavia disse...

Concordo com o Luis Henrique que o totalitarismo está em todos nós. Mas não é assim por natureza, mas por cultura.

Cultura é ambos: dominação e libertarismo. Acontece que o eixo de forças sociais da cultura como dominação, ordem, etc, a cultura dos grandes projetos e dos grandes planos nacionais... a cultura da ordem é milenar, é muito forte, e grava moléculas autoritárias em cada célula de nossos corpos, desde quando eramos crianças, pelas várias atitudes dos outros que aprendemos.

O eixo libertário eu preferiria chamar de eixos de demanda de jusstiça, são fragmentados, isolados, são resultados do esmagamento de culturas locais pela culturra dominante, são resultado de situações singulares e diversas entre si que são postos via exploração os grupos sociais e cuja liberdade foi esmagada pelo poder dominante. O poder do eixo dominação reina, deita e rola sobre a fragmentação dos dominados. Por um lado, ele a funda (a fragmentação) ao se colocar como única alternativa a todas as diferenças, por outro lado, ele trabalha sempre para aprofundar a fragmentação (botar estudantes contra trabalhadores, cidadãos contra estudantes, etc).

De certo ponto de vista, uma certa liberdade controlada é amiga da ordem. Os ramos que demandam justiça, ao sentir que há uma certa margem de liberdade, que é possivel fazer certas ações que melhoram levemente seu martírio, já sentem isso como avanço e se satisfazem em manter aquela ordem. O problema é que no Brasil a ordem passou tanto tempo sem dar no mínimo esta margem pequena de melhora, que a miséia de sertos grupos foi se acumulando, como os Sem Terra, por exemplo, são a explosão social de uma tensão que foi guardada por décadas e décadas, talvez séculos. Por outro lado o eixo dominação está se tornando cada vez mais truculento, o que se observa em cantinhos da usp (http://algodao.algumlugar.net/2009/06/mais-sobre-a-greve-na-usp/) e no próprio embate de serra com os grupos em greve, por exemplo. Observa-se um poder que não quer deixar brechas, espero que isso seja ruim para eles e não para nós,as esquerdas.

Flavia disse...

Para isso vamos ter que trabalhar, que eu não acho que nada vem assim causa-efeito no universo do humano, demasiadamente humano. Como eu disse, a fragmentação é o produto da direita que pega nossas diferenças e joga-nos uns contra os outros, cada qual transformado em culpado pelo estado geral das coisas (quando sabemos que o culpado é a direita que vê essa briga de gladiadores batendo palminhas, de camarote, não?). Assim, estamos que estudantes+passeata=impedimento de tráfego, então todo transeúnte está contra os estudantes. Estudantes que entram por "merito" são contra os estudantes por quotas. O cara que mora em São Paulo acredita que o migrante nordestino é uma praga que deveria ser erradicada, deixando apenas a Maria que limpa a sua casa. O serra queria levar o policiamento social ao limite de transformar o fumante em criminoso mesmo em ambientes privados e transferir a função do guarda para o cidadão delator (filme 1994?). O cara que mora em Paraisópolis não tem direitos e bota polícia neles (outro filme - Tropa de Elite, faz a defesa da tortura agora já não só na ideologia de bandido, mas pra qualquer anti-cidadão morador de favela que possa pela tortura, se transformar em delator).

Essas são algumas das divisões que o poder cria e amplia, e que a mídia explora e extrapola. Mas acredito que se a esquerda quer ser forte, ela vai ter que encontrar uma forma de ser realpolitik - pra não perder no aqui e agora - e ao mesmo tempo ser democrática e cultuvar o diálogo, o projeto de conhecimento dos outros (e não o projeto de levar a iluminação às mentes pobres), cultivar a extrema tolerância, o diálogo - que é o que dá mais trabalho. Diálogo cansa. Ele precisa ser mantido sempre, pois diálogo de bota o teu panfleto na mão dos outros e eles tem que ler não é diálogo, tem que receber a resposta, tem que ouvir, mas sei que tem horas que é necessário o panfleto e ponto. Mas não são sempre, e deviam ser a excessão. Se como exquerda desenvolvemos apenas o realpolitik, podemos ter ganhos no momento, mas estamos a cavar nossa fossa, pois perdemos a razão, perdemos a capacidade de diálogo, achamos que estamos com a bola toda e quando chega o momento de falar "vamu lá, galera!" já não tem mais ninguém ao lado.


Não existe diálogo sem tentar entender o outro. É isso que sempre se coloca entre nossas verdades e o entendimento. Tendemos todos a ficar no mesmo grupo, desenvolvendo tese - o que é legal de fazer - mas sem tentar acompanhar outros grupos, a nossa tese se baseia apenas na realidade do grupelho. E inicia-se a tendencia ao autoritarismo quanto a esta.

Flavia disse...

Então, Concordo co Hugo: "a chave para a superação do dilema do desejo está, justamente, na superação da ideia do Outro enquanto meio para a realização dos nossos desejos, mas sim sua compreensão enquanto fim."

Mas não é nadaa fácil. A estratégia totalitária será sempre a mais eficiente, enquanto as pessoas não começarem a se recusar a receber discursos prontos.

Hugo Albuquerque disse...

Flavia e Luis Henrique,

Sim, sem dúvida não será nada fácil. E não será pela via do debate político em sentido estrito que se chegará a tanto, mas sim pela reflexão e pelo diálogo filosófico na medida em que estamos tratando de uma questão intrinsecamente ética.

Acho que a não percepção disso é um dos pontos que mais se auto-acusam nessa pós-modernidade cluadicante em que vivemos; hoje os setores mais progressistas do ocidente ressentem-se de uma falta de referencial e caem num relativismo pueril que os faz andar em círculos.

Outro ponto na minha penúltima fala que acabei esquecendo é, realmente, temos enquanto sujeitos a potência do autocrático e do democrático (sim, pra mim isso pertence à primeira natureza do homem), mas a realidade externa ao nosso ser pode deflagrar ou um outro.

Nenhum sistema está livre de ser corrompido, mas há sistemas que são corruptos em si mesmos como o capitalismo, por exemplo. Seria possível que o mesmo se aplicasse ao socialismo tal como idealizado por Marx? Ou a culpa foi de Lenin? Ou na realidade, Stalin, mal que só ele, deflagrou a bomba? Ficam aí mais essas provocações.

Edu,

Com a formação daquele Leviatã chamado União Soviética - que entusiasmava intelectuais de Pequim a Chicago nos anos 30 - e o massacre dos anarquistas na Espanha, criou-se um contexto global onde o Socialismo à soviética - ou nem tanto, já que os conselhos (soviet em russo é tanto "conselho" quanto o verbo "aconselhar") pouco mandavam - parecia ser não só a única como uma saída aceitável para o capitalismo.

Os stalinistas foram bem competentes em construir partidos à sua imagem e perfeição pelo mundo. No Brasil, a participação deles na Intentona é flagrante. Aliás, os socialistas da geração de 30 tiveram um papel importante na eliminação dos anarquistas.

A ilusão em relação à União Soviética custou caro para a esquerda ocidental.

abraços coletivos

Luis Henrique disse...

Hugo,

É muito perigoso 'botar a culpa' numa pessoa específica, mesmo no caso de figuras históricas importantes (e polêmicas) como Lenin e Stalin.

Tenho outra provocação: imagine que o jovem Adolf, em um dia particularmente cinzento num campo de batalha na 1º guerra mundial, não tivesse ouvido o aviso de um companheiro próximo de que seus coturnos estavam desamarrados, e tomasse um tiro de baioneta na testa por não ter se abaixado para amarrá-los. Haveria nazismo então?

Hugo Albuquerque disse...

Luis Henrique,

Haveria Nazismo, mas seria um Nazismo diferente do que foi, menos carismático talvez e, portanto, menos popular. Se no lugar de Hitler estivesse Goebbels, aí eu já teria dificuldades maiores em responder. Eis a minha resposta para a sua provocação.

Agora, eu quero a minha resposta sobre o socialismo: A culpa está na forma como foi elaborada a teoria? Se sim, por quem? Ou foram as circunstâncias históricas? Ensine-me, por favor.

Luis Henrique disse...

Eu, ensinar você Hugo? Acho pouco provável, dada a sua resposta sobre o nazismo.

O socialismo que surgiu foi decorrência das circunstâncias históricas. Você mencionou os sovietes, organizações que não tinham muito poder na URSS, mas que ironicamente deram nome a ela. Logo após o surgimento deles, o que tivemos? Guerra civil. Pressões de potências externas. A falência dos movimentos revolucionários na Europa Central e Ocidental. O desenvolvimento democrático dos conselhos operários tinha poucas chances na Rússia do início do século XX. E como superar o capitalismo num país que mal capitalismo tinha? O paradoxo da Revolução Russa deu no 'capitalismo in vitro' que concluímos ter sido a URSS.

Eduardo Prado disse...

Olá, Meme!

Fico feliz com sua participação no Conversa de Bar.

Iniciativas como essa fazem mesmo muita falta na escola. Se o ensino muitas vezes deixa a desejar a culpa é do sistema que cada vez mais privilegia o conteúdo, que ainda por cima precisa ser passado aos alunos dentro do prazo determinado, não deixando tempo para debates como esse.

Quanto ao anarquismo, ele realmente é relegado a algumas poucas linhas mesmo nos livros didáticos. Uma pena mesmo.

Eduardo Prado disse...

Fico imaginando se a Revolução Alemã tivesse vingado. Será que a organização política e econômica do socialismo não teria seguido outros rumos? Bom, mas a história não permite adivinhações desse tipo.

Uma das coisas que disse aos alunos no final do debate é que, se o Socialismo enfrentou sua crise nos anos 70 e 80, mostrando-se inviável dentro do contexto mundial de economia globalizada, o Capitalismo vive essa crise hoje. Quando lembramos que a maior montadora de automóveis dos EUA e a maior seguradora do país foram convertidas em empresas estatais, já que o Estado é o detentor da maioria das ações com direito a voto, percebemos que as estruturas do sistema foram seriamente abaladas. E quando o atual presidente é eleito com a promessa de criar um seguro público de saúde, pois a maioria da população tem dificuldades para pagar os planos de saúde privados, concluímos que o capitalismo também se mostra ineficiente para garantir o acesso às oportunidades de desenvolvimento pessoal e ao progresso que seus defensores insistem em apontar como a principal vantagem desse sistema.

Luis Henrique disse...

Eduardo,

Você mencionou a Revolução Alemã - havia movimentos similares em outros países europeus na época, não? Pelo que me recordo, a Hungria chegou a proclamar uma República de caráter socialista em 1919, derrubada no ano seguinte.

Hugo Albuquerque disse...

Luis,

O Capitalismo era in vitro justamente porque ele era limitado por barreiras que permitiam à ditadura revolucionária do proletariado manipula-lo direcionando a acumulação de capital para a conquista do Comunismo por meio da revolução tecnológica.

Mesmo destruída nos anos 20, às portas dos anos 60 os soviéticos tinham a mais avançada tecnologia do mundo, mas não conseguiram completar o ciclo do desenvolvimento e o país entrou em colapso em trinta anos. Eis o problema.

Edu,

A Revolução Alemã não triunfou porque o capitalismo alemão fagocitou uma série de ideias do socialismo - e do anarquismo - para sobreviver.

Essa questão entra mais ou menos no sentido de uma postagem que eu fiz sobre a relação entre Capitalismo e Academia há um tempo n'O Descurvo: O Capitalismo tolera uma certa produção científica incômoda para depois absorver partes dessas teorias que lhe possam ser úteis.

Vejam vocês que não há mais nenhum Estado Liberal no mundo; existem Estados Social-liberais (EUA, por exemplo) e Social-democratas (a própria Alemanha), ou vocês querem coisa mais antiliberal do que a existência de um órgão como um Banco Central? O Capitalismo absorveu essa ideia e tantas outras ideias, igualmente estranhas à concepção Liberal, para sobreviver e continuará o fazendo, até que se esgote sua capacidade de adaptação ou alguém esgote com ele como fizeram os bolsheviks.

A via revolucionária bolshevik se provou exitosa não apenas no Império Russo como em muitos países pelo mundo, o modelo de Estado, não.

abraços coletivos

Luis Henrique disse...

Hugo,

Não somente a produção científica, mas também a produção artística é absorvida. Exemplos não faltam, mas um caso emblemático que sempre me vem à mente quando falamos de capitalismo amebóide (!) é a da célebre canção de Janis Joplin utilizada num comercial da Mercedes Benz: é a mensagem da música como meio para propagar exatamente o seu contrário.

Hugo Albuquerque disse...

Luis Henrique,

Sim, sim muito lembrado, com as artes acontece o mesmo.

Evandro Santos Pereira disse...

Eu participei de um debate parecido, mas que foi só entre a própria sala, em que os Nº pares defenderiam o socialismo e os Nº impares o capitalismo.
Meu grupo ficou com o Socialismo, ele é dificil de defender porque ele é muito antigo e nunca foi exercido de forma correta, ja o Capitalismo que ja é o atual fica mais facil de defender e de criticar o Socialismo pois veio depois.
No final a Professora deu como empate o debate, alegando que os dois grupos usaram de poucos argumentos, e tambem porque era dificil de conhecer cada tema em em 15 dias, e arrumar argumentos bons para o debate.

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