Burro Sim, Com Muito Orgulho!

O livro, uma coletânea de artigos do autor, é uma delícia de ler. Um dos artigos trata do poema "As Sete Princesas", de Nezame, um poeta persa do século 11. Nele, Calvino fala das diferenças entre a literatura de uma sociedade monogâmica e outra poligâmica. Enquanto na primeira o mocinho deve realizar um feito heróico para casar com a princesa, na segunda os feitos heróicos ficam mais difíceis a cada casamento. Sim, são mais de um, mas uma esposa não substitui a outra, são como tesouros acumulados durante uma vida virtuosa. Mas a parte que mais me interessou nem foi essa.
O herói desse poema era um exímio caçador e apenas um animal rivalizava com ele em esperteza. Leão, leopardo, raposa, urso? Que nada! Esse animal era o destemido onogro, símbolo da astúcia para os persas. Pois não é que esse animal tão esperto é um velho conhecido nosso? O burro. Ele mesmo! Não sei porque os persas fizeram essa associação, mas quem já viu um burro empacar sabe que de burro, o burro não tem nada.
8 comentários:
Acho bem legal esse tipo de literatura é sempre a mesma historia ,o moçinho passa por aventuras e salva a moçinha...mas falando achei bem iterresante que o burro é simbolo de astucia, pois como vc disse de burro o Burro não tem nada (risos)..... vo baxar depois o livro em PDF.
flw abraços
É mesmo, Roberto!
Todo conto de fadas é assim. O heróis da história sempre tem que enfrentar dragões, monstros, gigantes e até feiticeiras.
Mas falando do burro, acho que sua fama é injusta. Além de aprender rápido o serviço doméstico, o burro, quando cansa, não há quem tire do lugar. Tente atravessar um rio cheio à cavalo e ele atravessa, pode até morrer afogado, mas vai. Um burro não faria isso de jeito nenhum. E tente empurrar pra ver o que te espera. Um belo de um coice. E com as duas patas.
É isso mesmo.
Me interessei em ler este livro , vou ver se encontro por aqui!
abraço
Guilherme e Roberto,
O livro é muito bom, É uma coletânea de artigos sobre obras clássicas, um preto cheio para quem gosta de literatura e já conhece alguns deles.
O título do livro "porque Ler Os Clássicos", foi emprestado do primeiro artigo, que tem o mesmo nome. Esse capítulo pode ser lido no site abaixo. Vale apena gastar alguns minutos nesta leitura.
Antes de comprar o livro, eu recomendo que procurem um exemplar numa biblioteca (Guilherme, na faculdade deve ter), Se realmente gostarem, então comprem. Embora não seja pré-requisito, quem tem poucas referências sobre literatura clássica pode achar o livro um pouco chato.
(recorte e cole o endereço abaixo)
http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/porque/index01.html
Já faz tempo que o livro está na minha lista dos que devem ser lidos. Acho que vou aproveitar e usar o link acima (obrigada)
Como tem a ver, vou repetir a citação do texto do qual falei no outro post: Em Why Look at Animals (está num livro chamado About Looking organizado por John Berger), Guilles Aillaud analisa essa verve antropomórfica, avaliando sua importância no surgimento da linguagem e da própria cultura. Sua importância no surgimento da linguagem é evidente, em passagens da Ilíada, por exemplo, em que animais são usados na linguagem para descrever aspectos humanos que não podem ser descritos apenas pelo uso de adjetivos e substantivos abstratos. Copio uma passagem:
"'Menelaus bestrode his body like a fretful mother cow standing over the first calf she has brought into the world.'
A Trojan threatens him, and ironically Menelaus shouts out to Zeus: 'Have you ever seen such arrogance? We know the courage of the panter and the lion and the fierce wild-boar...'"
O antropomorfismo estaria na origem da metáfora e também no surgimento da idéia do sagrado, além de ter importância na conscientização, do ser humano, de si.
Eu indico a leitura. É um texto excelente.
Realmente, associar habilidades, características e comportamentos humanos a animais é comum a toda cultura, inclusive entre nossos indígenas. Talvez o origem da metáfora e do sagrado esteja aí, sim.
Embora também retratem figuras humanas e objetos, as imagens de animais predominam nas pinturas rupestres, provavelmente relacionadas a algum culto favorável a caça.
Flávia,
Já ia me esquecendo, obrigado pela recomendação. Guilles Aillaud me interessou bastante.
Creio que a origem dessas coisas - linguagem, metáfora, sagrado - não se explica por uma só via. Nem o Guilles pretende fazê-lo. Mas é um texto muito instigante
(de nada... obrigada eu...)
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