Tecnologia do Blogger.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Burro Sim, Com Muito Orgulho!

Algumas convenções culturais são tão fortes que embasam nossos discursos como se não houvesse outra interpretação possível. Uma delas me foi apresentada pelo livro "Porque Ler Os Clássicos", de Ítalo Calvino (Cia das Letras, 1993).
O livro, uma coletânea de artigos do autor, é uma delícia de ler. Um dos artigos trata do poema "As Sete Princesas", de Nezame, um poeta persa do século 11. Nele, Calvino fala das diferenças entre a literatura de uma sociedade monogâmica e outra poligâmica. Enquanto na primeira o mocinho deve realizar um feito heróico para casar com a princesa, na segunda os feitos heróicos ficam mais difíceis a cada casamento. Sim, são mais de um, mas uma esposa não substitui a outra, são como tesouros acumulados durante uma vida virtuosa. Mas a parte que mais me interessou nem foi essa.
O herói desse poema era um exímio caçador e apenas um animal rivalizava com ele em esperteza. Leão, leopardo, raposa, urso? Que nada! Esse animal era o destemido onogro, símbolo da astúcia para os persas. Pois não é que esse animal tão esperto é um velho conhecido nosso? O burro. Ele mesmo! Não sei porque os persas fizeram essa associação, mas quem já viu um burro empacar sabe que de burro, o burro não tem nada.

8 comentários:

Roberto l.Silva disse...

Acho bem legal esse tipo de literatura é sempre a mesma historia ,o moçinho passa por aventuras e salva a moçinha...mas falando achei bem iterresante que o burro é simbolo de astucia, pois como vc disse de burro o Burro não tem nada (risos)..... vo baxar depois o livro em PDF.

flw abraços

Anônimo disse...

É mesmo, Roberto!

Todo conto de fadas é assim. O heróis da história sempre tem que enfrentar dragões, monstros, gigantes e até feiticeiras.
Mas falando do burro, acho que sua fama é injusta. Além de aprender rápido o serviço doméstico, o burro, quando cansa, não há quem tire do lugar. Tente atravessar um rio cheio à cavalo e ele atravessa, pode até morrer afogado, mas vai. Um burro não faria isso de jeito nenhum. E tente empurrar pra ver o que te espera. Um belo de um coice. E com as duas patas.

Guilherme Diogo Rodrigues disse...

É isso mesmo.

Me interessei em ler este livro , vou ver se encontro por aqui!

abraço

Anônimo disse...

Guilherme e Roberto,

O livro é muito bom, É uma coletânea de artigos sobre obras clássicas, um preto cheio para quem gosta de literatura e já conhece alguns deles.
O título do livro "porque Ler Os Clássicos", foi emprestado do primeiro artigo, que tem o mesmo nome. Esse capítulo pode ser lido no site abaixo. Vale apena gastar alguns minutos nesta leitura.

Antes de comprar o livro, eu recomendo que procurem um exemplar numa biblioteca (Guilherme, na faculdade deve ter), Se realmente gostarem, então comprem. Embora não seja pré-requisito, quem tem poucas referências sobre literatura clássica pode achar o livro um pouco chato.

(recorte e cole o endereço abaixo)

http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/porque/index01.html

Anônimo disse...

Já faz tempo que o livro está na minha lista dos que devem ser lidos. Acho que vou aproveitar e usar o link acima (obrigada)

Como tem a ver, vou repetir a citação do texto do qual falei no outro post: Em Why Look at Animals (está num livro chamado About Looking organizado por John Berger), Guilles Aillaud analisa essa verve antropomórfica, avaliando sua importância no surgimento da linguagem e da própria cultura. Sua importância no surgimento da linguagem é evidente, em passagens da Ilíada, por exemplo, em que animais são usados na linguagem para descrever aspectos humanos que não podem ser descritos apenas pelo uso de adjetivos e substantivos abstratos. Copio uma passagem:

"'Menelaus bestrode his body like a fretful mother cow standing over the first calf she has brought into the world.'
A Trojan threatens him, and ironically Menelaus shouts out to Zeus: 'Have you ever seen such arrogance? We know the courage of the panter and the lion and the fierce wild-boar...'"

O antropomorfismo estaria na origem da metáfora e também no surgimento da idéia do sagrado, além de ter importância na conscientização, do ser humano, de si.

Eu indico a leitura. É um texto excelente.

Anônimo disse...

Realmente, associar habilidades, características e comportamentos humanos a animais é comum a toda cultura, inclusive entre nossos indígenas. Talvez o origem da metáfora e do sagrado esteja aí, sim.

Embora também retratem figuras humanas e objetos, as imagens de animais predominam nas pinturas rupestres, provavelmente relacionadas a algum culto favorável a caça.

Anônimo disse...

Flávia,

Já ia me esquecendo, obrigado pela recomendação. Guilles Aillaud me interessou bastante.

Anônimo disse...

Creio que a origem dessas coisas - linguagem, metáfora, sagrado - não se explica por uma só via. Nem o Guilles pretende fazê-lo. Mas é um texto muito instigante



(de nada... obrigada eu...)

Postar um comentário

Seu comentário é bem vindo!

  ©Conversa de Bar - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo