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terça-feira, 31 de março de 2009

Golpe de 64: 45 Anos


À Nação

É indispensável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba de abrir ao Brasil uma nova perspectiva sobre o seu futuro. O que houve e continuará a haver neste momento […] é uma autêntica revolução. A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se traduz, não o interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação.
Com essas palavras o Ato Institucional N°1 oficializava um regime ditatorial instaurado a 45 anos com um golpe militar, e colocava fim a Democracia no Brasil. É importante lembrar que o Golpe foi realizado em nome da Democracia e teve o apoio da opinião pública. A memória de uma sociedade civil mobilizada contra a Ditadura, retratada principalmente no período pós 1968, não foi uma realidade em 1964. E não é difícil entender por quê.
Durante o conturbado Governo de João Goulart, o Jango, a participação política deixava de ser exclusividade de uma elite proprietária e de uma intelectualidade letrada para ocupar campos, fábricas, universidades e Igrejas, onde setores progressistas se alinhavam aos movimentos sociais. Soma-se a este caldeirão em ebulição um país em crise, Inflação em alta, desabastecimento, recessão e um presidente sem apoio político que, para ganhar legitimidade, promete um amplo programa de reformas sociais.
Agora imagine tudo isso em plena Guerra Fria, um EUA assombrado pela Revolução Cubana e uma elite nacional que recém havia retomado o país das mãos de Getúlio e já temia perdê-lo novamente para outras forças sociais. O Golpe de 64 foi uma forma desesperada de desmobilizar as organizações de classe e impedir qualquer reforma social que ameaçasse privilégios consolidados. O que não conseguiriam pelo voto, tomaram de assalto.
Esses setores continuam influentes e, apesar da conjuntura ser outra, o espírito golpista sobrevive, com outras formas, mas ainda se escondendo atrás de um discurso democratico. Hoje a nossa Democracia parece consolidada, mas toda vigilância é pouca.

19 comentários:

Flavia disse...

É verdaade que o Governo militar teve amplo apoio popular. (e é uma vergonha também, mas é compreensível). Mas eu me lembro que na época das diretas houve toda uma festa e eu, que era criança, de uns 10, 11 anos, não tava entendendo nada do que era aquela felicidade toda, e cartazes espalhados pelas ruas e tudo mais.

Eduardo E S Prado disse...

Flávia,

Depois de ler seu comentário eu editei o primeiro parágrafo do texto pois eu acho que ficou a impressão de que a resistência contra a ditadura seria um mito. Não era isso que eu pretendia dizer.

A imagem que eu fazia do Golpe até poucos anos atrás era de um ato violento, com cidadãos indignados saindo às ruas para protestar, sendo reprimidos pelas forças do governo. Na verdade, com exceção da perplexidade com que Esquerda nacional e movimentos sociais ligados à ela, receberam a notícia do golpe, muitos jornais saudaram os militares e a "Revolução" na manhã seguinte ao Golpe. houve até comemoração nas ruas.

A partir do AI-2, mas principalmente do AI-5, em 1968, é que a opinião pública começa a se voltar contra o Regime, mas o engajamento das massas contra a Ditadura só ocorreria com o fim do Milagre Econômico e o aumento da inflação e do desemprego. O anseio da sociedade pela democratização que tomou conta do país a partir de 1975/78 veio à reboque da crise econômica.

Eu também era muito criança em 1984 para entender o que estava acontecendo, mas minha familia não era politizada, então eu não guardo muitas impressões daquela época. Mas me lembro dos cartazes, principalmente durante a campanha para governador, acho que em 1983 ou 84. Foi um dos momentos mais bonitos de mobilização nacional da nossa História. Pena que esse entusiasmo todo tenha se perdido com o tempo.

Não quero dar qualquer mérito para a Ditadura Militar, mas nós saímos institucionalmente mais fortes dela do que entramos e a Constituição de 1988 é, sem dúvida, muito superior a de 1946.

Hugo Albuquerque disse...

Eduardo,

Foi um período terrível e, sem dúvida, é sempre muito difícil escrever sobre o tema dadas as múltiplas perspectivas pelas quais tanto o golpe quanto a ditadura podem ser enxergados e analisados. Eu mesmo me peguei nessa dificuldade e acabei partindo para um relato mais próximo da minha realidade. No entanto, acima de tudo temos de nos lembrar do quão necessário é nunca deixar a reflexão sobre este tempo funesto ser deixada de lado sob pena do pouco que conseguimos retroceder.

abraços

Jorge Ramos disse...

hoje para mim vivemos em DEMOCRADURA, ou seja ditadura travestida de democracia, ou melhor vivemos uma ditadura democrática... ao menos nesse periodo militar tds sabiam qual era o regime, e hoje que vivemos um regime perverso que aniquila o cidadão em vida, mas é legal poder falar o que pensda né? com uma fome danada, mas pode se falar ou seja estou com o burro na sombra, esta morrendo de fome mas esta na sombra ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, é até bonito, mas na pratica direitos tem quem pode pagar por eles.

Eduardo E S Prado disse...

Jorge Ramos,

Nossa democracia não é perfeita, nisso eu concordo com você, mas ela não é perfeita exatamente porque a participação popular na política é muito fraca, para a maioria dos brasileiros essa participação se resume às eleições.

Nos anos 70, quando o Milagre Econômico acabou e o desemprego urbano se tornou uma realidade cada vez mais próxima do trabalhador,junto com a inflação, muitos brasileiros abraçaram a causa da Democracia como se ela fosse a tábua de salvação, a solução para todos os problemas. Mas logo que foi restabelecida e as pessoas perceberam que Democracia não garante emprego, bons salários, nem serviços públicos de qualidade, a indiferença se instalou atém mesmo em muitos daqueles que fizeram passeata pelo direito de participar da vida política do país. E democracia, sem participação popular, não resolve, ou resolve muito pouco.

Acredito que vivemos numa Democracia, num Estado de Direito, mas para ela funcionar bem é preciso que seja utilizada em todas as suas possibilidades. A sensação de impotência que nós brasileiros _ e não só nós _ sentimos diante da política é enganosa e nociva. Podemos muito, mas se não fizermos nada, nada muda, nem a fome.

Muito obrigado pela visita e por participar dessa Conversa de bar!

Valeu!

Eduardo E S Prado disse...

Hugo,

Você tem razão, existem muitas possibilidades de tratamento para este período, algumas inclusive são bastante contraditórias, até porque o Regime era contraditória. Não conheço muitas piadas sobre o Regime Militar, mas estudando esse período podemos perceber que os militares eram muito amadores. Formaram governos tão atrapalhados e incompetentes que só conseguiram se manter no poder por tanto tempo graças a censura.

Penso que o grande desafio é responder o que estamos fazendo com a Democracia que tanto lutamos por conquistar. Para muita gente _ e é claro que não generalizo para todo mundo _ a resposta seria um sonoro nada!

Flavia disse...

Edu,

Vou colocar meu comentário antes de ver o que escreveram os outros leitores do bem :) (correndo o risco de dizer o que já foi dito)

Mas acho importante salientar que toda a reflexão a respeito dos fatos é importante, inclusive a reflexão acerca do amplo apoio popular (por isso, não apague o que você escreveu, é importante também). Não fiquei com impressão de que a resistência à ditadura foi um mito. Todos sabemos o quão caro estas pessoas pagaram: se não com as próprias vidas, interrompidas, ou tendo que viver com os frutos da tortura,e perseguidos, ou excluídas da participação política ou tendo que viver em outro país, ou sob o anestésico poder dos intorpecentes. Todos nós pagamos por isso, pois somos frutos daquela época de uma maneira ou de outra. Continuamos a pagar caro por isso.

Quando na adolecência, já na faculdade, formei a idéia que você fala: do período de ditadura como uma grande mobilização popular atacada por cacetetes nas ruas, e por bombas de gás lacrimogêneo. Esta imagem é tão parcial quanto a outra, de que a população aceitou na boa e viveu na mais santa paz. No entanto, é preciso fugir tanto de um mito como do outro. Ainda nos primeiros anos da faculdade lembro-me de ter formado a idéia de que a França era o verdadeiro país da liberdade, pois França=idéia romântica de Revolução Francesa + Comuna de París + Resistance, portanto a França é o país da liberdade. Esse mito não nos deixa ver todos os movimentos concervadores que agiram e continuam agindo na França. Da mesma forma no Brasil. A reflexão acerca das forças que impulsionaram e ainda impulsionam a nossa vida política, sem a exclusão de qualquer uma delas por via dos afetos (daquilo ao que somos simpáticos) é a única forma de reflexão capaz de nos colocar possibilidades e caminhos. Lembro-me quando os estudantes e professores começaram a refletir em que medida os mitos sobre o movimento estudantil como um movimento heróico não impedia o atual movimento de funcionar. Explico: a mitificação dos movimentos daquela época coloca para os estudantes de hoje a imagem de um mito inalcançável, para o qual qualquer tentativa de ação hoje parece uma cópia mal feita, que nunca atingirá aquela perfeição.

(eu continuaria escrevendo, mas tenho que sair pra dar aula)
beijos

De qualquer forma, a mensagem era de que não se trata de desmerecer os movimentos dos anos da ditadura, pelo contrário, trata-se de desmistificá-los para que seja possível nos apossarmos deles como legítimos herdeiros, ao invés de o sentirmos como peso aos ombros, como um deus inalcançável com o qual só nos comunicamos na presença dos oráculos e sacerdotes.

Flavia disse...

Oi de novo, leitores do bem:)
Agora li os comentários

Hugo,
Penso que não é possível fugir ás contradições.

Elas existem porque a sociedade é um todo

contraditório e isso está na sua própria tecitura

de classes (ou "não-classes" como disse chico de

oliveira - texto inaugural do seminário sobre

marx na carta maior). O que é possível fazer é

dar voz aos relatos contráditórios e observar que

o ponto de vista está relacionado à posição dos

sugeitos na sociedade.

Por exemplo, vou tentar fazer isso com a minha

família e tentarei demonstrar que também sofreram

aqueles que foram coniventes com a instauração do

regime. Isto, creio, ajuda a explicar por que

houve tamanha adesão às diretas sendo que boa

parte das pessoas que se regojizaram com o fim do

remime foi gente que antes foi conivente (pois

não é convincente pensar que a população

brasileira se tornou em lutadores da liberdade da

noite para o dia). Concordo com o Jorge - e muito

bem colocado - que há eventos econômicos

importantes neste entendimento, mas além disso,

há também um elemento político, o da libido

política, do orgasmo proibido ao longo desses

anos.

A minha família foi provavelmente conivente com a instauração do regime. Digo provavelmente porque eles são muito reticentes e não tem muito o que contar de história pessoal ligada a eventos políticos da época (e quando as pessoas não se orgulham de suas ações o normal é não falarem muito a respeito). Portanto eu imagino que eles ou ficaram quietinhos no seu canto, ou talvez mesmo tenham achado muito bom que um estado forte tenha vindo dar segurança às suas vidas (ou, pelo menos, é provável que assim tenham se sentido).
Das minhas memórias de meninice, lembro de cartazes, mas não carregados por eles. Foram cartazes deixados pelas ruas, não muitos, talvez apenas dois (um deles tinha o rosto e o nome do Quércia - pois é - mas isso então, acho que ficou grudado na minha memória por ser novidade: claro, nunca antes tinha visto cartazes que não fossem sinalização de tráfego e devo ter perguntado aos meus velhos que moço era aquele ou algo assim).

Lembro que mais ou menos por aquela época minha família passou a falar em política (isso também ficou marcado, pois nunca antes eu jamais soube o que era isso: o quê? política? nunca antes conversas daquelas). O meu pai falava muito mesmo de como era bom o Jânio Quadros e alguém chegou a mencionar um Ademar de Barros. Eram as primeiras vezes que eu ouvia os mais velhos falarem em nomes que não pertenciam ao nosso círculo familiar, amizades e vizinhos. Meu pai não parava de falar do Jânio, que pra mim passou a ser uma espécie de grande homem, ao lado de deus, papai noel e Nat King Cole.

Claro, que com a adolecência, meu coração passou a pertencer aos Beatles, aos Mutantes e à Tropicalha, e todo o meu ponto de vista começou a mudar, mas o importante de tudo isso é notar que não é por que nossos pais não tiveram histórias políticas pessoais - como muito mais tarde vim a conhecer com outras famílias - que eles não evidenciam uma história sofrida a partir do qual é possível refletirmos sobre as experiências de quem ficou na ante-sala no período. O silêncio é um sintoma de algo muito mais profundo que a simples ausência, assim como também é a repentina verborragia janista do meu pai.

É evidência de que, com o passar dos anos o proibido virou um nó na garganta (lembram da música do chico? "eu quero fazer silêncio, um silêncio tão doente do vizinho reclamar..." "o amor-perfeito traindo, a sempre-viva morrendo a rosa cheirando mal"...) e por mais que uma vez eles tenham até achado boa aquela figura que fizeram de um estado forte, o tempo passou e eles sentiram que caíram num engôdo. E a verborragia denuncia esse libido reprimido, pedindo pra dar vasão, a agonia de uma longa noite na casa dos espíritos.

Eduardo Prado disse...

Flávia,

Você tem razão. O Regime Militar teme muitas facetas. É importante não excluir nenhuma, até mesmo para não sermos desonestos com nós mesmos.

Sobre seu primeiro comentário, gostei do que escreveu sobre a idealização dos movimentos sociais daquela época. Essa "mitificação" acaba atrapalhando mobilizações atuais porque queremos resgatar ou reviver uma época carregada de paixões, paixões imaginamos faltar nas mobilizações atuais, sem nos darmos conta que vivêmos outra realidade. Pior que isso, muitos movimentos atuais procuram "imitar" seus antecessores, repetindo slogans já ultrapassados contra inimigos que já morreram de velhos, ou já estão moribundos.

Seu segunto comentário me levou de volta a minha infância. Me lembrei de uma noite em que uma perua passou pela meinha rua distribuindo as "vassourinhas" do Jâneo Quadros e eu amarguei uma grande frustração por não ter conseguido garantir a minha. me lembrei também que um grupo de jovens desceu minha rua colando castazes de algum candidado, mas não me lembro quem era. Em seguida, outro grupo veio atras retirando tudo e colando outros. Isso acabou resultado numa briga feia que deu até polícia. Isso foi em 1982 ou 83, eu acho.

Quanto a participação da minha familia, não houve. Nem a favor nem contra. Minha mãe, por exemplo, nem sabia que vivia numa ditadura. Segundo meus tios, havia um medo muito grande de que os comunistas tomariam o poder. Na cabeça de muitos parentes meus daquela época, que eram muito católicos, as reformas implementadas pelo Concílio Vaticano II, como tornar a batina dos padres e os Hábitos das freitas opcionais, eram vistas como um sinal de que o comunismo estava muito próximo. Minha mãe contava que os religiosos deixaram seus habitos por medo de serem assassinados pelos comunistas ateus.

Na minha casa não se respirava politica. Eu mesmo só fui me interessar por ela durante a campamha pela cassação do Collor. Naquele época eu pintei a cara e participei de todas as pesseatas. Ainda me lembro do orgulho que sentia de mim mesmo enquanto descia a paulista ou a Brigadeiro vestido de preto e segurando uma bandeira do Brasil enquanto ouvia Alegria Alegria, do Caetano, Como Nossos pais, de Elis ou Há Tempos, da Legião Urbana.

Como eu sinto sadades daqueles dias...

Hugo Albuquerque disse...

Flavia,

Sim sim, mas o que eu coloquei era que dentre as múltiplas facetas da ditadura eu tinha de escolher uma para postar - na medida em que eu não tinha tempo nem espaço para debater a problemática em toda a sua complexidade, portanto, parti do particular para total, para ilustrar o caso.

Vejo a ditadura militar como uma espécie de icosaedro - um tipo de sólido geométrico com vinte faces: São várias faces diferentes e até opostas, mas todas ligadas e assentadas de modo a formar um todo razoavelmente complexo.

abraços

Eduardo

Já que tá todo mundo falando do envolvimento de parentes com ou contra a ditadura, eu não tive. Minha família é toda de gente simples do interior de Pernambuco - suficientemente remediados para não passar fome e decisivamente pobres para não terem ideia do que estava acontecendo.

Meu familiar mais próximo disso tudo é um tio, irmão mais velho de meu pai, que era cabo do exército - e apesar de suas posições direitistas, tratou de dar um jeitinho e conseguir uma vaguinha no "agitado" hospital geral do exército de Recife para se livrar de confusões antes de dar baixa ainda nos anos 70.

Papai estudou matemática nos anos 80, votava no PMDB e sempre teve uma posição de centro-direita - seria um gaulista se fosse francês. Mamãe sempre foi mais ou menos uma democrata-cristã, conservadora em questões morais e defensora de saúde e educação públicas e de valores humanistas. Enfim, o tipo da gente que se não era - ou é - revolucionário ao menos passavam ao largo de darem aval para um golpe ou para tortura.

Eu acabei me interessando por política e assumindo posições mais progressistas na escola mesmo - e foi por influência de alguns professores meus. Militância mesmo, só de certa maneira na faculdade - leia-se, de um ano para cá.

abraços

Eduardo E S Prado disse...

Hugo,

Meus pais também sempre foram conservadores em questões morais, mas com relação à política as preferências variavam muito de uma eleição a outra, mais ou menos como para a maioria dos brasileiros.

Com relação a minha história de posicionamento político eu fico até sem jeito de escrever...

Na verdade, como entrei na escola no início dos anos 80, época de grandes discussões políticas graças ao enfraquecimento do regime e às manifestações _ populares, artísticas, políticas _ pela redemocratização, fui contaminado, de certa maneira, pelo vírus do interesse político. Mas esse interesse teve altos e baixos e, deve dizer, já assumi discursos mais conservadores _ e até reacionários _ quando era mais jovem _ PRONTOFALEI!

Quando tinha 14 anos "descobri" que era Ateu, comunista e roqueiro. Era nada! Roqueiro, talvez. Mas choquei a familia inteira...

Isso não durou muito. Já no Colegial, atual ensino médio, surfei legal na onda pró capitalista que se seguiu a queda do Muro de Berlim e ao desmonte da URSS.

Meu posicionamento mais à Esquerda, como é hoje, foi o resultado de uma longa trajetória de vida, mas também foi na faculdade que eu consolidei as idéias que tenho hoje. Ainda assim, não me considero militante, apenas me engajo a uma ou outra posição política ou mobilização social, de acordo com as minhas convicções.

Seja lá o que eu for, sempre serei solidário a causa dos mais fracos, do bem comum, da liberdade e de igualdade de condições e oportunidades que, aliás, são indispensáveis para a idéia que eu tenho de liberdade.

Hugo Albuquerque disse...

Eduardo,

Não esquenta não velho, eu acho que já fui meio conservador também hehehe. Acho que eu mudei mesmo quando tinha uns 14 anos. Hoje eu me vejo como um homem de esquerda, me ponho do lado da Democracia, dos Direito Humanos, do Internacionalismo e do uso da tecnologia tendo em vista o bem comum. Acho que já são bandeiras razoáveis ;-)

Unknown disse...

Eduardo, um tanto tardiamente, gostaria de dar o meu pitaco nesse assunto: acho que essa questão do apoio popular ao golpe não é tão simples quanto parece, nem para o sim nem para o não.

Darcy Ribeiro dizia que se o Brasil não deu certo, não foi por culpa do povo, mas das elites. Com 90% da imprensa do período criando um clima de terror anti-comunista contra o governo (em plena guerra fria e numa época em que a "grande imprensa" tinha muito mais poder do que hoje), é claro que havia setores das classes altas e médias temerosos e ansiando pelo golpe; naturalmente, quando este eclodiu, essas pessoas se manifestaram publicamente, enquanto a maior parte dos apoiadores da esquerda, recém-derrotada, ainda receosa do grau de repressão e refletindo a própria postura de Goulart, inicialmente se retraiu.

Mas essa foi uma reação de momento, pois a década dos 60 é, até a decretação do AI-5, amplamente dominada por manifestações públicas da esquerda (que, como apontou o crítico Roberto Schwartz, mantinha, paradoxalmente, a hegemonia do campo cultural em plena ditadura).

Portanto, o quadro não permite a nenhum dos lados afirmar categoricamente possuir apoio majoritário.

Agora, se os militares tinham todo o apoio popular que alguns de seus apoiadores no jornalismo e na academia agora alegam, por que não convocaram eleições em um prazo curto, como inicialmente haviam se comprometido? Se tinham tanto apoio assim, ainda mais com a máquina do governo na mão, venceriam facilmente, não é mesmo?...

Por que raios então, se tanto apoio tinham, preferiram se submeter ao desgaste de cassar os políticos civis com chances eleitorais ao invés de impor o vexame supremo de derrotá-los nas urnas? Ou não tinham esse apoio todo que se alardeia ou, ao contrário do que Elio Gaspari afirma, eram péssimos estrategistas políticos.

E como explicam o fato que, em 1974, quando permitiram eleições controladas, mesmo com a economia indo a mil - em pleno "milagre econômico" -, tomaram uma baita surra nas urnas?

É preciso que os acadêmicos e jornalistas que se tornaram difusores dessa tese de que o golpe militar teve amplo apoio popular respondam essas e outras questões e provem, com fatos, sua afirmação. Do contrário, é "achismo" puro.

Um abraço,
Maurício.

Eduardo Prado disse...

Maurício,

Seja bem-vindo!

De fato a questão do apoio popular ao golpe, se houve ou não e com qual intensidade, é muito mais complexa. Como você bem lembrou a mídia preparou os espíritos para o golpe trabalhando incansavelmente para disseminar a idéia de que o país vivia um caos institucional com grave ameaça à democracia e à propriedade. Quando os militares finalmente tomaram o poder a opinião pública se sentiu aliviada e, como você também disse, a esquerda se calou perplexa. Mas qual a real dimensão desse apoio popular aos militares?

Para quem não viveu esta época, como eu, e conta com versões _algumas bastante contraditórias _ de historiadores, jornalistas e políticos que viveram e estudaram esse período, não é fácil responder a esta pergunta, mas eu tenho algumas pistas. Mas são só as minhas pistas por isso fique a vontade para corrigí-las se achar necessário.

É interessante notar que o Golpe de 64 não foi apenas militar, mas o resultado de uma aliança civil/militar. UDN e militares do Exército se uniram para tentar dar ao golpe um “ar” de legalidade e conseguiram eleger, de forma indireta, o general Castelo Branco como presidente provisório até as eleições presidenciais de 1965. A idéia inicial, pelo menos de parte dos militares, era que, expurgando parte da esquerda, a UDN tivesse maior chance nas eleições. Caso isso se confirmasse o governo voltaria para os civis.

O problema é que não havia identificação do eleitorado com os militares, por isso eles contavam com a estrutura partidária da UDN, um partido que sempre sonhou com o poder, mas nunca conseguir chegar à presidência. Só que os políticos da UDN não tinham carisma suficiente para vencerem uma eleição para a presidente. Quando parecia que chegariam lá, com Jânio Quadros, este rompeu com o partido e, depois de tomar posse, ainda tomou medidas que deixaram os udenistas de cabelo em pé, como condecorar o revolucionário Che Guevara.

As eleições de 1964/5 deixaram claro para os militares que o risco da oposição levar a presidência era muito grande. Fora a falta de carisma dos udenistas, o governo de Situação ainda era alvo da impopularidade provocada pelo pacote de estabilização econômica lançado pelos militares em seguida ao golpe, que provocou arrocho salarial e desemprego. Tudo isso favoreceu a oposição, o que levou os militares a cancelarem as eleições diretas indefinidamente e cancelar o registro de todos os partidos políticos criando um bipartidarismo inspirado, mal e porcamente, no modelo do Império. Tentando, assim, garantir maioria no Congresso.

O objetivo até foi alcançado, mas, alijados do sonho de chegar à presidência do Brasil, partidários da UDN, como Carlos Lacerda, se voltaram contra os militares e engrossaram o caldo da oposição, ainda que de forma “relativa”, já que ideologicamente eram muito mais próximos dos militares que o recém criado MDB. Sem um apoio partidário que garantisse a legitimidade da intervenção militar o jeito foi apelar para o AI-5 e assumir de vez o caráter autoritário do regime. A partir daí o que restava do apoio popular conseguido em 1964 se perdeu de vez.

No entanto é bom lembrar que o período do Milagre Econômico proporcionou uma calmaria nas águas navegadas pelos militares e a ARENA ganhou algumas eleições, chegando a ser maioria no Congresso por um bom período. Oposição mesmo, com impopularidade crescente em todos os setores sociais, os militares só vieram a enfrentar a partir de 1973, quando o milagre econômico começou a fazer água , e se intensificou a partir de 1978 com as greves que começaram no ABC e se alastraram pelo país.

Abraço!

Anônimo disse...

Muito interessante o papo por aqui... a Flávia levantou algo bem interessante, da mitificação de pessoas/movimentos do qual nós nos intentificamos, e como é possível que surja daí um 'complexo de inferioridade' em relação aos mitos e heróis do passado. O velho Brecht já dizia: 'feliz é o povo que não precisa de heróis!'

A única história da ditadura que posso comparilhar, já que nasci em 84, é de que uma vez minha mãe me revelou que seus pais 'deram ouro pelo bem do Brasil'... ela é filha de advogado, classe média ultra-conservadora. Me lembro do meu avô brigando com o 'comunista' do meu pai durante a campanha de 89...

Quanto às posições políticas de cada um, bem, acho meio irrelevante dizer que se é a favor da democracia, dos direitos humanos, etc. Ningúem 'é contra' isso hoje em dia (ou melhor, se diz contra)... por isso prefiro abrir o jogo logo e dizer que meu cardápio no almoço é criancinha enlatada.

:)

Um grande abraço,
Luis Henrique

Anônimo disse...

É Hugo, também fui doutri... digo, inspirado por professores no ensino fundamental e médio. Já na quinta série da minha vida, lembro-me de um professor dizendo que, na História, não existem heróis ou vilões. Fiquei pensando uma semana nos exemplos que ele deu: Hitler e Gandhi, e de como essas figuras históricas tiveram significados diferentes para pessoas diferentes em épocas diferentes. Anos mais tarde encontrei uma citação do último elogiando o primeiro no 'trato' que dava aos judeus... puxa vida!

Dessa época ficou marcada, também, a História do Brasil: séculos se passavam, mas o tópico 'Sociedade' na lousa permanecia o mesmo: "Senhores, pobres-livres e escravos". 'Tem alguma coisa _muito_ errada nisso aí', pensava: até hoje 'é assim', guardadas as devidas proporções, claro...

Mas também 'vesti a camisa' só na faculdade, durante a greve contra os famigerados decretos do Serra.

Até a próxima!

Luis Henrique

Eduardo Prado disse...

Seja bem vindo, Luiz Henrique!

Essa mitificação pode não ser tão ruim se servir como inspiração para as novas gerações e não como modelo apenas, já que a sociedade muda e o que funcionou muito bem ontem, hoje pode não ter eficácia nenhuma.
É muito difícil uma sociedade não ter heróis ou modelos. Faz parte da constituição de uma identidade de grupo. Pode até ser que exista alguma onde esses seres dotados de "superioridade moral" sejam dispensáveis, mas eu não conheço.
Como historiador é interessante lembrar que esses mitos não retratam o que uma sociedade é realmente, mas como ela quer ser reconhecida. Neste ponto ´é possível conhecer uma sociedade pelos heróis cultuados por ela.

Fico feliz que a escola, apesar de todos os seus problemas, ainda desempenha um papel muito importante na formação de uma consciência cidadã.

Abraço!

Théssica Bruna disse...

Me diga uma coisa...
Para que ter democracia,se sempre vemos as mesmas caras na politica,as mesma regras e leis?
E essa historia de termos liberdade de expressão e uma falsidade imposta pelo governo,pois vivemos em uma "Ditadura",diga-se de passagem.
Os jovems estão perdendo esta liberdade,pois raramente lutam por seus ideais.

Eduardo Prado disse...

Théssica Bruna,

Nossa democracia tem problemas _ como a concentração da mídia nas mãos de poucas famílias que decidem o que eu e você deve ou não saber _ , e nisso eu até posso concordar com você, mas com todos esses problemas, ela é real. Somos, sim, uma democracia. Agora, é verdade que democracia não adianta muita coisa se não houver participação política. Também acho que a juventude brasileira é um tanto apatica, apolítica, mas isso mudo, acho até que está mundando.

Eu sou um otimista e acho que todos nós deveríamos ser.

Obrigado pela participação!

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