Oriente Médio Em Evidência
Um desses espinhos é retratado nas telas pelo filme Valsa com Bashir, do israelense Ari Folman. Um documentário autobiográfico em animação sobre a busca de Folman por suas memórias da Guerra do Líbano, da qual ele participou, mas não guardou lembrança alguma. Embora não seja um filme político, faz um paralelo entre a crueldades do Holocausto e o massacre de cerca de três mil palestinos por cristãos libaneses nos campos de Sabra e Shatila, do qual ele participou, ainda que indiretamente. O exército israelense não só deu cobertura, fechando as rotas por onde os palestinos poderiam fugir, como iluminou os campos para facilitar o massacre.
Aproveito para recomendar o excelente post do Thiago Leite no Teia Neuronial sobre o livro Orientalismo, de Edward W. Said, que mostra como o Oriente e o Islã são vistos pelos olhos do Ocidente e pensados como uma região _ e religião _ beligerante, irracional e imprevisível e como esse olhar impede a compreensão não só dos seus problemas, mas de como o Ocidente foi e continua sendo responsável por considerável parte deles.
6 comentários:
Eduardo,
Sou bastante cético quanto a consolidação de um processo de paz no Oriente Médio. A Paz é perfeitamente possível, afinal de contas, lá, assim como em qualquer lugar do mundo, ela é aquilo que todos desejam, portanto, se há um estado de guerra perene, isso só pode ser fruto da ação muito bem coordenada de grupos econômicos e políticos muito bem organizados. Enfim, meu ceticismo nasce, justamente, da constatação de que o Oriente Médio não está assim por falta de ordem, mas pelo excesso dela e, mais do que isso, da existência de uma ordem voltada para a realização sistemática do descalabro.
Hugo,
Também continuo bastante cético quanto a isso, pelo menos quanto a um processo de paz que seja justo também para os palestinos.
Na verdade, eu acredito que o conflito arabe/israelense caminha para um limite a partir do qual não haverá outra saída a não ser aceitar a criação de um Estado Palestino, mas nos moldes israelenses, claro.
Se o candidato moderado vencer as eleições presidenciais do Irã e aceitar o convite de aproximação feito por Obama, que parece disposto até mesmo a negociar o programa nuclear iraniano, o país pode deixar de ser um problema internacional, ou pelo menos será um problema menor. Se isso levar a uma mudança de postura também por parte da Síria, sensível as posições iranianas, Israel terá cada vez menos argumentos para sua beligerância.
Claro que esse monte de "ses", se isso , se aquilo, se aquilo outro, é muito vago e torna minhas considerações inconsistentes, eu seu disso _ papo de doido, né? _ , mas a opinião pública internacional está cada vez mais sensível a situação dos palestinos. A pressão sobre Israel só tende a crescer e em breve o próprio modelo de Estado Israelense imporá uma solução. E não será a solução que os Palestinos desejam, mas não existem muitas opções.
Não acredito em um Estado Palestino viável, simplesmente porque Israel não deixou espaço para isso. Qual a outra solução? Bem, a comunidade internacional não aceitaria a extradição em massa de milhões de palestinos, menos ainda o reconhecimento de uma novo apartheid, que é o que Israel está se tornando. A tolerância internacional parece estar se esgotando, um dia ela acaba e eu pressinto que este dia não demorará muito.
Pois é, ainda hoje vemos o Oriente Médio como uma região de conflito, onde tudo gira em torno da guerra e da violência. Não se pode, é claro, negar que ali existem conflitos, mas, ao ver o Oriente Médio como marcado principalmente (ou exclusivamente) por essa característica, tendemos a generalizar e a pensar que cada centímetro da região é manchado de sangue.
As viagem do papa, por exemplo, pelo Oriente Médio, numa missão cujo objetivo é a conciliação, mostra que a abordagem do Ocidente é quase sempre a de um diplomata civilizado tentando ensinar os bárbaros a viver em paz.
Porém, acho que, admitindo que há problemas específicos em algum lugar do mundo (qualquer lugar), não se pode deixar de reconhecer que a tentativa de ajuda externa é importante. Contanto, é claro, que não seja uma ajuda imposta à força nem marcada por favoritismos.
Hugo,
Não sei se já leu o post "A Paz não Interessa a Israel", no Vi o Mundo.
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-paz-nao-interessa-a-israel/
Tem tudo a ver com o seu comentário.
Thiago,
Esse é o problema da suposta ajuda oferecida aos povos árabes. Mais que uma ajuda imposta ela visa apenas manter a região dentro da área de influência do Ocidente, diga-se EUA e Europa.
No caso Palestino/Israelense a balança pesa tão favoravelmente a Israel que é incrível alguém se surpreender com a frustração dos palestinos. Mocinhos e bandidos já foram definidos deste jogo e são os bandidos que devem se render.
Pois é, Eduardo, eu penso mais ou menos nessa linha mesmo. Desconfio fortemente do interesse em um Estado Palestino viável não apenas por parte de Israel, mas também por parte das potências ocidentais - e no que se estende sobre os demais estados muçulmanos; veja você o caso do Irã que recentemente foi tão polêmico: Os americanos boicotaram o governo moderado de Khatami e assim abriram brecha para Ahmadinejad. O atual chefe político persa é um radical, mas quem disse que o Ocidente quer algo exatamente diferente? Não seria ele um bode espiatório conveniente? Essa a questão, mas, sem dúvida, uma hora a situação da região e, em especial a palestina chegará a um limite do qual teremos dois caminhos: Ou a paz ou genocídio. Isso não está muito longe.
abraços
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