(a Minha) Virada Cultural
Gente, muita gente. Avenidas, ruas e vielas centenárias do Centro Velho tomadas por uma multidão alegre e pacífica, na maioria jovens. Esta foi a imagem que guardei da quinta edição da Virada Cultural, a segunda que acompanhei. A primeira foi a do ano passado.
Este ano fui acompanhado por três amigos. No dia seguinte, enquanto fazíamos o nosso balanço pessoal da Virada, o Edu fez uma observação oportuna: Vimos muita coisa bacana, mas também vimos muita coisa ruim, a gente é que escolhe qual delas vai levar pra casa. Estou pensando nisso enquanto escrevo este artigo.
O público deste ano foi realmente muito grande, chego a ficar surpreso que não tenha ocorrido incidentes graves durante as 24 horas do evento. Tanta gente junta gera alguns inconvenientes, principalmente quando alguns palcos são instalados em ruas estreitas, dificultando a locomoção, e quando faltam banheiros, um problema crônico em todos os grandes eventos realizados na cidade. Outro é a sujeira. Se a quantidade de pessoas impressiona, a quantidade de lixo espalhado pelas ruas impressiona mais ainda. Sobrou lixo e faltou lixeira. Era preciso andar muito até encontrar uma, já completamente cheia.
Uma das marcas da Virada é a diversidade, sobretudo no que diz respeito às atrações musicais. Do Clássico ao Forró, do Jazz ao Sertanejo, todos os estilos e preferências culturais tem seu espaço. Mas é a organização do evento que decide qual espaço deve ser reservado para cada um e é aí que a face mais repulsiva, preconceituosa e elitista dessa cidade, ou de quem por hora manda nela, aparece. À turma do Rap e do Hipi-Hopi foi reservado o pior espaço no evento, o Parque Dom Pedro, longe do restante da festa e de difícil acesso. A periferia foi colocada na periferia do Centro, talvez para preservar a classe média desse tipo de convivência e ao mesmo tempo mostrar a este gente feia, perigosa e inculta qual o lugar dela. O argumento de que a periferia não é só o Rap e o Hip Hop não cola. Apesar de verdadeiro é preciso reconhecer que o Rap e o Hip Hop é a periferia.
É importante reconhecer todos esses problemas. São Paulo é injusta e mal administrada, a virada Cultural reflete isso. Mas não foi esta a imagem que eu escolhi trazer para casa. Ver as ruas mal cuidadas do Centro Velho tomadas de gente de vários lugares do Brasil e do mundo, todos ali, espremidos para assistir aos mesmos shows é muito bom. Dançar ao som de música eletrônica em pleno Pátio do Colégio, às três horas da manhã (foto), ou cantar Raúl Seixas na Estação da Luz, de madrugada, ao lado de milhares de pessoas, não tem preço, como diria um comercial de cartão de crédito. Os custos e as vantagens que esse tipo de evento trazem para a cidade podem e devem ser discutidos, mas se eu usasse chapéu tirava para o povo dessa cidade. Pra mim a Virada Cultural, apesar de todos os seus problemas, foi uma grande demonstração de civilidade e convivência. O Edu estava certo!
9 comentários:
Muito bacana. Infelizmente, não pude ir, fiquei em casa de castigo mesmo. Ademais, já tinha ouvido falar desse lance do hip hop, é mesmo muito triste e reflete o que é uma cidade administrada por Kassab.
Nossa Edu muito legal cara, só não pude ir porque estava estudando e muito(risos)
Mas vi as noticias , foi legal,só não gostei do modo de administração desse evento, fazer o que , a sociedade escolheu o Kassab.
abraço!
Hugo e Roberto,
A Virada foi bacana sim. Apesar do número de atrações ter sido BEM menor que a do ano passado.
Quanto a administração Kassab, bem, é isso mesmo. Lamentável. E ainda faltam três anos para esse mandato acabar.
Valeu!
Edu,
Você quer ajudar a lançar um blog coletivo pela confecom? Há meses que mando e-mail pra tentar criar um canal de participação do blogueiro e blogófilo e internauta em geral - ou seja, todos aqueles que podem ajudar a divulgar a confecom pela net para pessoas que tem muito a contribuir da frente do computador, mas que não quer ou não pode ir a reuniões na câmara e no congresso.
De todos os e-mails que mandei pra tudo quanto é encereço de email que encontrei de gente ligada à confecom houve uma booa resposta de um deputado do PT - Augustino Veit - também ligado à questões dos direitos humanos. Ele vai me ajudar a conectar o tal do blog às páginas dos movimentos e ongs ligados à conferência e gostou muito da idéia de um blog coletivo livre que venha a contribuir para a coisa.
intão é isso. Daqui uns meses espero que o tal do blog esteja caminhando sobre as próprias pernas, mas por enquanto, como a coisa está muito no germe, ele precisa de um empurrãozinho. Eu precisarei tanto de ajuda para montar a coisa (que plataforma vamos usar, como fazer para que todos possam não só comentar, como gerar posts, ainda é uma noção vaga que não sei ao certo como botar em prática), mas também vamos precisar de gente que contribua com posts, por exemplo.
é isso.
muitos beijos
(faz tempo que eu vejo que vc tá com o banner da confecom no seu blog, e eu mesma andei tão enrolada na rouanet que nem coloquei um no meu...)
P.S: Posso te indicar pro augustino? Ou você mesmo pode pegar o e-mail dele augustino.veit@camara.gov.br
Aqui em São Paulo a coisa tá muito dependente de uma mãozinha de voluntários e gente ligada à causa, pois a prefeitura e o governo do estado não vão ajudar, como está ocorrendo com outros lugares, como o Maranhão, por exemplo.
Ah, se vc quizer, eu re-passo os e-mails que troquei com o augustino, se você tiver curiosidade de ver.
E se tiver mais gente pra indicar pode mandar bala, manda pra mim ou pra ele que tá ótimo.
Nessas situações, vemos como a estrutura das relações sociais se reproduzem em qualquer evento.
Aqui em Natal, lembro de uma notícia, há alguns anos, de que uma jovem negra, que pagara caro para pular num bloco do Carnatal, foi impedida de entrar. Um pequeno apartheid que causou desconforto em todos.
Flávia,
Também estou com o dia curto. Minha vida virou uma loucura neste último mês, por causa do trabalho.
Claro que aceito ajudar sim! Só preciso de mais informações. Como faço para entrar em contato com você? No menu superior deste blog existe o campo "Contato". Se preferir pode escrever direto nele que a mensagem é redirecionada a minha caixa de e-mails. Fazendo isso eu também terei o seu e-mail, e sem o risco de spans futuros, hehehe...
Thiago,
Com certeza!
Por mais que o brasileiro goste de se apresentar como um povo cordial, que convive harmoniosamente com pessoas de diferentes origens, esse esforço cai por terra quando observamos o modo como se dão as relações sociais. Essa harmonia até pode existir sob alguns aspectos, mas apenas enquanto cada um ocupa o lugar que lhe é reservado. Quando alguém tenta ocupar um espaço que não aquele determinado para ele, essa harmonia se desfaz tomando outras formas, algumas delas muito violentas.
Abraço!
Ola edu , faz tempo que num passo por aqui.
A eu fui na virada cultural , curti muito. estava tudo muito bom. O melhor mesmo foi ver as pessoas confraternizando em torno do bem mais precioso , que é a cultura.
Terminei de ler o livro Operação Valkiria, muito bom. Eu ja conhecia a historia, mas não tão aprofundada quanto no livro. Adorei.
Abraço
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