A Greve Continua!
Hoje eu vou dormir feliz. Feliz e orgulhoso da profissão que escolhi, cujas alegrias e misérias eu compartilho com centenas de milhares de colegas por esse Brasil afora. E já explico porque.
Como muitos dos leitores que me acompanham neste blog já sabem, sou professor de História na rede estadual de ensino público do estado de São Paulo. Estou na rede a relativamente pouco tempo, quatro anos apenas, mas o suficiente para conhecer, e sentir na pele, a vida difícil que levam aqueles que abraçaram o magistério público _ e não só o público _ como profissão. Embora elas sejam muitas, esta não é uma profissão só de dificuldades. E é bom que se registre. Ter a oportunidade de fazer parte da formação para a vida de tantas crianças, jovens e adultos e de também ser tocado por eles, é muito gratificante. Não fosse pelas alegrias que tiramos da nossa convivência com os alunos, creio que muitos professores já teriam abandonado o magistério para seguir outra profissão em que fossem mais valorizado. Infelizmente não são poucos os que o fazem.
É por essas razões que me custou muito entender a aparente apatia de muitos colegas em relação as mobilizações da categoria por melhores condições de trabalho. A dificuldade em conseguir a união do grupo em prol das nossas reivindicações, reconhecidas como legítimas e necessáras por todos, sempre me incomodou bastante. Com o tempo, conhecendo as razões e as jsutificativas de cada um, pude compreender um pouco os mecanismos que emperram a união da categoria e que tem levado, nos últimos quinze anos, à depreciação dos salárias e à piora nas condições de trabalho e ensino. Os motivos dessa desunião são muitos: O medo dos descontos no salário, de perder pontos na progressão da carreira, de prejudicar a aposentadoria, entre outros. Mas o principal motivo é a descrença quanto aos resultados. Foi conhecendo essa realidade que recebi com certo desânimo a deflagração da atual greve ao perceber que, se muitos colegas aderiram de pronto, muitos outros decidiram continuar trabalhando sob as mesmas codições. De qualquer forma, é nas assembléias que podemos sentir a adesão da categoria.
Já participei de outras assembléias em 2008 e 2009, e era triste constatar que apesar da nossa presença ali, as ausencias selavam o fracasso das nossoas reivindicações. Confesso que hoje fui à Av. Paulista com a mesma apreensão, quase confirmada pelo reduzido número de pessoas concentradas sob o vão livre do Masp. Com o passar dos minutos a apreensão deu lugar a euforia. Não parava de chegar professores vindos de todos os lugares do estado. Já não cabiamos mais na área do museu quando alguém anunciou no autofalante que dezenas de ônibus vindos do interior do estado, e que foram interceptados pela polícia rodoviária a mando do governo, estavam estacionando nas imediações. Em pouco tempo a calçada em frente ao Masp ficou pequena, depois foi a própria Avenida Paulista ficou pequena. Uma verdadera multidão formada por professores e funcionários da educação tomava os dois lados da avenida.
O dia de hoje mostrou que apesar de humilhados pelas políticas do estado de São Paulo para a educação e desvalorizados pela sociedade, somos muitos, e unidos somos fortes. Não sei dizer quantas pessoas estavam na Paulista, mas sei que eramos muito mais que os oito mil sugeridas pela PM. O Governo e a imprensa podem tentar minimizar a manifestação de hoje, mas agora sabem que compraram uma briga feia. Talvez o presidenciável José Serra tenha perdido o sono pensando na dor de cabeça que arrumou. Do meu lado, eu durmo feliz.
A greve continua!
5 comentários:
Caro Edurardo,
Você tem mesmo motivos para dormir feliz. a manifestação dos professores foi a mais contundente reação contra o desgoverno Serra até agora - com a vantagem de que, devido ao grande número de participantes, não pode ser brutalmente dissuadida pelas forças oficiais, comot em sido costume.
De resto, como disse no Twitter, comparar as fotos do Reveillon na Paulista com a da manifestação dos professores é constatar que o público foi ainda maior do que o que a própria Apeoesp estimou.
Um abraço,
Maurício.
Maurício,
A greve dos professores sera um abacaxi azedo que o Serra terá que descascar. Se iniciar as negociações antes da próxima Assembléia, marcada para Sexta-feira, dia 19 de Março, pode terminar a greve sem arranhões mais profundos à sua candidatura, embora aceitar a reivindicações representaria reconhecê-las como legítimas. Por outro lado, se continuar batendo o pé contra as negociações, vai correr o risco ver a mobilização dos professores se radicalizar e contagiar outros setores também descontentes com seu (des)-governo, como você definiu bem. Neste caso o arranhão corre o risco de virar um ferida abertta e muito feia, pois vai ter contra sua canditatura a imagem de um governante que não ouve a sociedade e, pior ainda, não saba negociaar.
Obrigado pelo comentário!
Forte abraço!
Olá Eduardo !!
Tbém sou professora da rede estadual um pouquinho mais de tempo que vc: 20 anos... rs pois é...
E estava na assembléia dia 19 na Av Paulista.
Realmente foi de arrepiar...
Sou de Ribeirão Preto e por aqui estamos mobilizados. Eu particularmente, e meu marido que tbém é professor, estamos em greve. Nas escolas que trabalhamos, não estão 100% paradas, mas com uma boa adesão à greve.
Sexta-feita estaremos na assembléia no Palácio.
E vamos ver no que vai dar.
Abraço
Rita
Rita,
Vinte anos! É uma vida!
Acompanho a situação da Educação Pública em São Paulo a muito tempo, mesmo quando ainda nem pensava em ser professor. Ou melhor, pensava, mas não acreditava que fosse virar a mesa alguum dia. Nesses vintre anos tivemos algumas conquistas, que embora tímidas, foram resultado de muita luta por porte dos professores. Infelizmente os últimos governos do PSDB representaram um retrocesso muito grande, praticamente anulando as conquistas dos anos anteriores. E a culpa, em grande parte, é nossa, pois, como categoria, "aceitamos", por pura imobilidade, que as coisas chegassem a este ponto. Pena que muitos professores não se dêem conta disso.
Aqui na Capital a adesão é grande, se comparada à última greve. Estamos longe do ideal, claro, mas na minha região a maioria das escolas está parada, quando não totalmente, pelo menos parcialmente.
Sexta também estarei lá! A união é o que nos faz fortes!
Obrigado pelo comentário!
Abraço!
Greve dos Professores e a Copa do Mundo.
O Senador Cristovam Buarque comenta Greve dos Professores em Minas Gerais e copa do mundo, fazendo analogia entre os acontecimentos. Brilhante discurso, que merece ser visto na íntegra, no site do TV SENADO, dia 16-09-2011.
http://www.youtube.com/watch?v=PaDoisjnZFA
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