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domingo, 12 de abril de 2009

Entre os Muros da Escola

O sinal toca numa escola pública da periferia de Paris anunciando o início da aula. Os alunos entram na classe gritando, ouvindo música nos celulares, arrastando carteiras, brigando. O professor espera, pede silêncio, enquanto seus alunos retribuem com “cala a boca você; vai se f….
Assim começa “Entre os Muros da escola", adaptado do livro de François Bégaudeau, um professor de Francês que interpreta a si próprio no filme (trailer) vencedor da Palma de Ouro e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
O longa retrata as dificuldades enfrentadas por professores franceses na educação de alunos pobres, imigrantes ou filhos de imigrantes, numa sociedade que não consegue, ou nem quer, integrá-los à ela. Apesar de retratar uma realidade diferente, há muito em comum com as escolas públicas brasileiras. O interessante é que os professores do filme não são idealizados, como costumam ser em filmes do gênero, mas pessoas comuns, cuja paciência também tem limites e que, por mais dedicados que sejam, são o inimigo público número um.

O filme me deixou algumas perguntas: Deve-se abrir mão do conteúdo curricular em favor daquilo que realmente interessa aos alunos? Como conviver com atos de indiciplina sem tornar a aula inviável? E por que o ensino para aqueles que mais precisam dele para vencerem a pobreza é tão difícil? Estas são as minhas, quem se propuser a assistir ao filme certamente deixara a sala de exibição com outras.

8 comentários:

Cristina Soares disse...

Edu,
verei o filme para tirar minhas conclusões e sair repletas de questionamentos, mas posso te garantir a realidade de lá também vive aqui no Brasil,aliás vc sabe disso melhor que eu, e o que é pior não só no nível básico, nas universidades também,isso vivo eu atualmente,tanto pela nulidade crítica dos alunos, como dos professores em trazer para sala, aulas questionadoras e o círculo vicioso se perpertua. Parabéns pelo blog, tá muito bom!!beijão, CRIS.

Hugo Albuquerque disse...

Eduardo

Verei o filme assim que puder, a problemática da educação não me interessa apenas como cidadão, mas também pessoalmente, afinal, meu pai é ex-professor - desistiu da profissão por conta da desvalorização salarial e do desrespeito profundo que sofre a classe magisterial - e tenho várias tias que lecionam - e uma prima que é professora universitária.

Na França havia um sistema que funcionava, mas que se degradou e vem se degradando há algum tempo; além do fato dele não ter sido - nem estar sendo - pensado para incluir os imigrantes. Leia-se que isso não acontece apenas no ensino básico: O ensino superior francês enfrenta uma grave crise e Sorbonne, inclusive, está em greve - como fiquei sabendo pela boca de um grande amigo meu que faz intercâmbio lá.

Cá em Pindorama, nunca tivemos um ensino satisfatório, mas quando as coisas estavam se encaminham, vieram os militares e a lógica de emburrecimento, autoritarismo e desvalorização profissional e moral da classe magisterial foi trazida à baila. Caiu a ditadura e veio a democracia formal e a situação se agravou.

Ouço da boca de muitos conservadores que a culpa pela deterioração do ensino foi da universalização da educação trazida pela Constituição de 88. Nada mais falacioso; o ensino público foi sucateado não por uma omissão qualquer, mas pela capitulação dos governos "democráticos" frente ao lobby das redes de ensino privadas - tanto no que toca escolas, cursinhos ou "universidades".

Mais que isso, o dever de educar não é - nem pode - ser monopólio das escolas. Pais e a comunidade - em sentido amplo - têm também essa obrigação ética. No entanto, como fazer isso se muitas famílias simplesmente foram desagregadas nos anos 80 e 90, vítimas das várias crises econômicas? Como fazer isso, se a televisão, talvez o elemento de maior alcance para educação na minha geração é, a despeito de ser uma concessão pública, uma máquina de emburrecer - ver Big Brother e congêneres?

A questão educacional no nosso país, portanto, cai num debate muito maior e muito mais profundo: A necessidade do Brasil finalmente passar a ter uma democracia material - e não apenas formal - e como a presença do segundo desacompanhada do primeiro tem servido para esconder e justificar e esconder a plutocracia reinante - que necessita tão somente da educação técnica, mas que é tacanha que nem isso percebe...

É isso. Desculpe pelo comentário muito longo.

abraços fraternais

Roberto l.Silva disse...

Ola Edu ,a minha opinião seria o mesmo que o primeiro comentario ,isso também ocorre aqui no Brasil e com frequencia,pois você também sabe, e eu também sei ,isso acontece direto não só em Escolas,em Universidades,Lembra do ano passado?(RISOS)

Parabens pela postagem gostei!!!

abraços!

Maria Donizetti disse...

Oi, Edu!

Ainda não assisti a esse filme, mas já estou curiosa. Pelo que li sobre ele parece que a situação não é mesmo diferente do Brasil. Temos amigos professores que contam cada coisa...

Eu gostaria de tar resposta para pelo menos uma dessas perguntas: Por que a educação dos mais pobres é tão difícil? Os alunos são indiciplinados e desinteressados, não respeitam os professores e simplesmente não fazem nada na sala de aula. Quando estava na licenciatura e tive que cumprir as 300 horas de estágio fiquei horrorizada! Até pensava em ser professora, mas depois que vi as humilhações que os professores passam todos os dias nas mãos daqueles alunos eu desisti. Ficaria doente se meu estagio durasse mais, não me surpreende que muitos docentes estejam afastados por problemas de saúde.

Isto é que eu não entendo. Nas escolas que em que estive é praticamente imposspível dar aula pois não tem como explicar o conteúdo, eles não deixam. É um absurdo total. Mas nas escolas particulares, onde também desrespeitam o professor, os alunos costumos ficar atentos à explicação, pelo menos nas escolas por onde passei. Eles já sabem bastante coisa pra série deles, mas querem aprender mais. Já na escola pública eles não sabem nada e não querem nem ouvir falar em tentar aprender. Se o professor tenta forçar corre o risco de ser ameaçado ou até mesmo agredido. Acho que a educação pública faliu e ainda não se deram conta disso.

Eduardo Prado disse...

Olá, Cris!
É muito bom contar com a sua participação!

Assista ao filme, sim! Garanto que vale a pena!

Os alunos do filme são filhos de imigrantes marginalizados pelo sistema, mas a semelhança com alunos brasileiros é muito grande. É difícil não comparar. Não quero estragar a surpresa do filme, então não entrarei em detalhes, mas tomando apenas ele como referência _ já que não conheço a realidade da educação francesa _ as coisas por aqui são muito piores. Pelo menos a escola do filme é bem equipada e o professor pode, inclusive, pedir que cada aluno elaborasse um auto-retrato por escrito e ilustrasse com fotos tiradas por eles, editadas nos computadores da escola e impressas ali mesmo. Sem contar que o número de alunos por sala é bem menor que a que estamos acostumados por aqui. Na verdade existe um abismo entre as condições de ensino da escola do filme para as escolas públicas paulistas. Mesmo assim as semelhanças são chocantes.Apesar de tudo o filme não é só tragédia, nem a educação brasileira.

Sobre a dificuldade da escola em formar pessoas críticas, capazes de dialogarem com as informações que recebem e não apenas assimilarem tudo sem questionamento nenhum, esse é um fato lamentável que, sinceramente, será muito difícil superar. Eu até vejo algum progresso, mas como já comentei em outro post, tudo avança muito lentamente, infelizmente.

Eduardo Prado disse...

Hugo,

Obrigado pelo comentário! Não está longo não, aliás, aqui não tem limites de tamanho para comentário, hehehe...

Comecei minha licenciatura em 2006 e terminei em 2008, portanto sou um novato na área educacional, mas desde o início ouço essa história de que o grande mal da educação foi terem inventado essa de democratização do ensino. E quem fala isso não é apenas quem está de fora, não. Muitos professores de ensino fundamental e médio pensam assim, e o pior, até alguns professores universitários, que formam futuros professores, também reproduzem essa bobagem. Eu mesmo já ouvi isso de professores _ em off, claro _ quando estava na faculdade. Por aí você já vê a quantas anda a nossa educação.

Concordo totalmente com você! A melhoria do ensino passa pela sociedade e pela família. A escola não pode, e nem consegue, ser responsável sozinha pela formação das nossa crianças e adolescentes.

Lembrei de uma fala do geógrafo Milton Santos em que dizia que o acesso a direitos sociais básicos como saúde e educação não avança no Brasil porque a nossa classe média nunca lutou por direitos. E por um motivo simples: Direitos se estendem a todos e não conferem nenhuma distinção àqueles que se utilizam dele. Por isso, Segundo ele, a classe média brasileira sempre lutou por privilégios. O privilégio de poder pagar plano de saúde, privilégio de poder pagar boas escolas particulares, de possuir automóvel particular e dispensar o transporte público, entre outras coisas que, estas sim, as transformam cidadãos distintos. Pode-se dizer que o geógrafo generalizou demais a classe média nesse seu discurso, mas tem muito de verdade no que ele disse.

Eduardo Prado disse...

Olá, Roberto!Me lembro bem sim. Risos...
Espero que sua escola esteja mais calma este ano...

Maria,

Sei bem o que você está dizendo. Quando fazia estagio também presenciei algumas coisas que quase me fizeram desistir. Lembro de uma oitava série que explodiu uma bombinha, dessas bem grandes que eles chamam de morteiros, dentro da sala de aula. Vidros da janela e lâmpadas do teto estouraram e feriram alguns alunos. Uma cadeira voou pela sala e quase acertou a professora, que saiu da escola de ambulância, em estado de choque. Quando perguntados sobre o motivo, os alunos disseram que só queria se divertir assustando a professora. Era a sétima aula dela aquele dia e foi a última do ano. Ela ficou afastado por um bom tempo. Com os alunos que armaram a confusão não aconteceu nada. Chamaram os pais e aplicaram algumas suspensões, que foram compensadas com trabalhos para completar a nota. Tentaram transferir alunos alunos, mas nenhuma escola os aceitou, então eles continuaram por lá, aprontando.

É o não é pra repensar a profissão depois de uma dessas?

Anônimo disse...

Eduardo Prado,

Muito boa a sua descrição do filme. Assisti Entre os Muros no domingo, mas sinceramente eu não achei tudo isso o que andam dizendo dele. Também sou professor e talvez por isso mesmo senti um clima muito artificial na tela.

Tudo bem, é outra cultura. A realidade da periferia de Paris não deve ser a mesa da periferia de Curitiba, além disso é um filme, portanto ficção, apesar de ser baseado numa experiência real, mas eu esperava um pouco mais de realismo. Achei o professor do filme muito arrogante, mesmo sendo bem intencionado, e achei que os alunos até que pagavam leve com ele. É uma sala barulhenta, mas onde é possível explicar alguma coisa. Alguns alunos até se interessavam pela aula, o que é raro por aqui.

No mais eu fiquei com as mesmas perguntas, mas para uma delas eu tenho resposta: Se um professor realmente quer ajudar seus alunos a aprenderem alguma coisa, o currículo vai ter que ser deixado de lado. O conteúdo eles vão aprender depois, de algum jeito, no dia que precisarem aprender. Na minha opinião a função da escola é formar pessoas pensantes e eles só vão se interessar a pensar algo que seja do interesse deles, que pertença a realidade deles. Se conseguir ensinar algumas noções de Português, de Matemática, de História, ótimo. Quem lucra são os alunos, mas se o professor tiver apenas isso como objetivo, não vai conseguir ensinar nada, vai se frustrar e os alunos deixaram a escola sem saber porque passaram tanto tempo de suas vidas dentro dela. Concordo com a Maria Donizetti, a escola, como nós a concebemos, faliu faz tempo, mas tem gente que não percebeu ainda e continua dando murro em ponta de faca.

Abraço!

Marcelo Santiago

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