O Primeiro livro
Hoje o Felipe, meu sobrinho de onze anos (na foto, acima), terminou seu primeiro livro: “ O Poderoso Remédio de Jorge”, do inglês Roald Dahl, publicado pela Editora 34”. Compramos o livro ontem, na Bienal do Livro. Ele mesmo escolheu. Meu sobrinho já leu muitas histórias infantis, mas livro mesmo, desses com mais de cem páginas, letras em tamanho normal e poucas ilustrações foi o primeiro. Muitos outros já passaram pelas mãos dele, como a coleção inteira do Harry Potter, que ele mesmo pediu para ganhar, mas não terminou nenhum, para frustração do tio aqui.
Um dos desafios para pais e educadores _ e tios também, claro! _ é incentivar o gosto dos pequenos pela leitura. Hoje predomina a idéia de que leitura não pode virar obrigação, nem mesmo na escola. Na minha época, quando meu pai trazia algum livro para a gente ler não havia como escapar, e ainda tínhamos que contar a história depois. A escola também não dava moleza. A leitura do livro escolhido pela professora era obrigatória. Ou lia inteiro, e dentro do prazo, ou corria o risco de tirar zero na prova. Eu não teria chegado a última página de “O Cortiço” aos treze anos se não tivesse sido coagido a isso.
Ter pais leitores que inspirem o exemplo ajuda, mas nem sempre é determinante. Meu pai sempre leu muito, teria uma bela biblioteca se não deixasse seus livros espalhados por aí, mas dos seus seis filhos o único que compartilha do mesmo gosto sou eu. E conheço exemplos parecidos em outras famílias. Talvez seja uma questão cultural, não sei, a tradição oral é muito mais forte entre os brasileiros que a literatura, e não é diferente na minha família. Se pudéssemos juntar as duas coisas….
Mal terminou de ler o primeiro livro e meu sobrinho já começou outro, “A botija”, de Clotilde Tavares, também da editora 34, baseado justamente nas tradições orais do povo brasileiro. Disse que está gostando. Não sei se ele vai pegar gosto pela leitura a partir de agora, mas pelo menos o caminho já foi aberto.
4 comentários:
Nós continuamos firmes e fortes na função de tios de dar livros. Brinquedos do trenzinho quando bem novo, depois música em cds (não tem mais vitrolinhas, mas os cds são mexidos da mesma forma, com todos os dedos e tropeços, para colocar pra tocar um disquinho), por fim, livros...
Pra uma sobrinha dei Alice no país das maravilhas, com os desenhos originais, e a Flavia pegou emprestado dela o Ladrão dos Raios, que ela já tinha lido. Pra outra mais nova, Irmãos Grimm para ser lido com a mãe. Em comum tem o contar histórias pelos pais; em algum momento os pais largam e dizem algo do tipo, quer saber o que tem aqui? Então tá, é só ler.
Da minha parte, lembro de minha mãe lendo pra todos nós Vinte mil léguas submarinas. Depois li para o colégio O mistérios do cinco estrelas. Meu primeiro livro lido porque quis, Nem só de caviar vive o homem. Por fim, na oitava série, O senhor dos anéis, em espanhol, porque um filho de argentino me emprestou... E eu não gostava das aulas de Português, muito menos de inglês. Mas ler era aparte, nunca virou obrigação. Acho que isso faz toda a diferença.
Paulo,
É muito gostoso quando a gente lê uma história para uma criança e ela gosta tanto a ponto de pedir para repetir mais uma, duas, três vezes. Mais gostoso ainda é quando elas resolvem recontar a história do jeito delas, dando novos rumos aos personágens.
Em casa meus pais não tinham o habito de ler para a gente, mas meu pai costumava comprar coleções de livrinhos ilustrados que vinham acompanhados de um disquinho com a história contada. A gente adorava!
Agora, o que não faltava mesmo, era contação de história, a maioria sobre assombração, requezas escondidas e malandragens a la Pedro Malazarte.
Minha avó materna e minhas tias foram grandes contadoras de histórias, e nos faziam acreditar que se tratava de fatos reais, alguns acontecidos com elas mesmas ou com os antigos da família. Muitas dessas histórias foram contadas a elas pelos avós. Pelo que diziam, o avô de minha avó era um estimado causista. Eram essas historias que povoavam minha imaginação e meus sonhos de criança. Ah como eu gostaria de ouví-las novamente...
Ziraldo uma vez disse que uma das maiores lições que ele aprendeu com a "professora maluquinha" foi: "Ler é mais importante do que estudar".
Sem desmerecer a necessidade do estudo, este não é nada sem a leitura, e esta é um precioso meio enriquecedor do espírito. Continue instigando as crianças próximas a você a ler, pois em nosso mundo um indivíduo sem leitura tende a ser como que um mutilado.
Thiago,
Que bom ter você de volta!
A professora maluquinha do Ziraldo tem toda razão. O estudante que lê consegue fazer várias conexões entre as diferentes diciplinas e entender o contexto em que cada saber foi produzido, seja ciências, História ou matemática.
Um forte abraço!
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